Vem aí a segunda edição do Festival A Música Reside no KAOS

Conheça mais das bandas/artistas que irão se apresentar no festival online de música da mata norte de Pernambuco.

Divulgação do evento – Imagem: A Música Reside no KAOS / Instagram

Por Guilherme Souza

Sete anos após o primeiro festival do Movimento KAOS (A música reside no KAOS), chegou o momento da segunda edição. Muita coisa mudou no cenário alternativo da Zona da Mata Norte Pernambucana, com diversos músicos de variadas orientações artísticas produzindo música de qualidade, e Goiana vem se consolidando cada vez mais como um ambiente propício para o surgimento de novos artistas, músicos, produtores e fazedores de cultura em geral. Com apoio do Funcultura, o evento acontece para captar a efervescência cultural que a região vem passando, mesmo em tempos de pandemia, e para mostrar como o KAOS (que é justamente resultado desse caldeirão transbordando expressões musicais) organizado pode fomentar uma base sólida de colaboradores interligados através da ajuda mútua.

A seguir, você pode conhecer um pouco da história das bandas e artistas que irão participar do evento, além de ler alguns depoimentos dos músicos sobre suas experiências na edição anterior do A Música Reside no KAOS, a relevância que eles enxergam no evento para cultura alternativa da Zona da Mata Norte pernambucana e as expectativas para a segunda edição que está chegando.

Banda Tercina – Imagem: Divulgação

TERCINA (TRACUNHAÉM)

Zona da Mata Norte de Pernambuco, precisamente na cidade de Tracunhaém, no ano de 2012, surge a banda Tercina, trazendo a música como meio de expressar os nossos sentimentos, transformando-os em melodias, harmonizando a história da nossa região, desfrutando da sua riqueza natural, expressa na arte e cultura em geral.

Uma banda instrumental focado nos ritmos da Zona da Mata Norte Pernambucana, com influências voltadas para a música brasileira e universal, focando em ritmos como: samba, salsa, jazz, baião, maracatu, o coco de roda, o frevo, dentre outros. Atual formação: bateria, baixo, guitarra, trombone e percussão. Músicos com experiências em outros projetos musicais, e alguns com formação acadêmica na área.

Seguindo nessa toada, trabalhando o groove, respeitando a individualidade de cada um, fazendo o som fluir naturalmente, buscando alcançar a melhor possibilidade musical.

Lucas Torres – Imagem: Divulgação

LUCAS TORRES (GOIANA)

No interior de Pernambuco, da cidade de Goiana, desponta uma figura original e intensa atuante no cenário musical Pernambucano: Lucas Torres, um artista cuja expressão se baseia no experimentalismo sonoro e estético, reinventando as convenções estabelecidas na tradição artística regional.

Com quinze anos de trajetória da música, sete destes em carreira solo, Lucas Torres apresenta relevante contribuição para a cena cultural de Pernambuco.

Lucas se apresentou na primeira edição do festival A Música Reside no KAOS em 2013 e contou um sobre suas lembranças:

“Lembro que foi uma das minhas primeiras apresentações já com o formato de apresentação que mais tarde viria a se tornar o show SIGNOSER. Foi uma noite incrível, dois dias depois do meu aniversário, com um público formado de amigas e amigos queridos demais e acompanhado dos músicos Juliano Holanda (baixo), Thiago Laranjeiras (guitarra) e Tom Rocha (bateria). Foi uma festa e tanto! Me diverti muito!”

Sobre a importância que ele vê no Movimento KAOS:

“O Kaos é o que nos dá um respiro. Saber que uma cidade como Goiana não tem tantos festivais culturais é triste. O Kaos resiste e mostra para Pernambuco as potências musicais de toda uma região. Principalmente artistas independentes, que produzem e resistem também.”

Das suas expetativas para o próximo evento:

“Já me sinto muito agradecido por fazer parte do Lineup do festival, de estar entre as atrações. Será uma ponte daquele primeiro momento, em 2013, e agora, apresentando um show mais íntimo, já com algumas músicas que farão parte do meu novo EP que será lançado em março. Além de poder assistir meus amigos e amigas que estarão tocando também. Apesar de um momento tão bizarro em que a humanidade se encontra por conta de suas próprias ações, continuo acreditando: só a arte salva.

Sid3 Sacrifício e Fé – Imagem: Divulgação

SID3 SACRIFÍCIO E FÉ (TRACUNHAÉM)

Desde a infância, Sidclei tinha sensibilidades aos diferentes timbres sonoros de sua terra. Seu interesse pela música surgiu quando ele brincava com a bateria que confeccionou com latas, no roçado da cerâmica São Joaquim, na zona rural de Tracunhaém, cidade onde nasceu e criou-se. A partir dos 14 anos passou a frequentar as aulas da Orquestra Revoltosa de Nazaré da Mata, cidade vizinha a Tracunhaém. Nessa época, ele já tocava bateria nos bares e nas bandas de baile da região. Com 18 anos, foi estudar no Centro Musical de Olinda, Cemo.

Sidclei conviveu com as brincadeiras populares da Zona da Mata, foi integrante de vários maracatus, como a Cambinda Dourada (Camaragibe) e o Leão Cultural (Nazaré). Desenvolveu o conhecimento de ritmos tradicionais como o maracatu de baque solto, ciranda, boi de carnaval e blocos rurais.

Sidclei é um artista viajado, já tendo se apresentado com projetos musicais na América Central, tocando em países como México e as ilhas do Caribe. Também já fez viagens para a Europa, onde participou de grandes festivais, como o Glastambourry, na Inglaterra.

Como produtor, Sidclei é o idealizador e coordenador do Tipoia Festival, que acontece desde 1999 em Tracunhaém, abrindo espaço para a música independente, principalmente as bandas regionais.

No momento, o artista dedica-se ao trabalho autoral Sid3 Sacrífico e Fé, instrumental/experimental, que conta com a participação de grandes nomes da música contemporânea. Em seu primeiro trabalho solo, Sid3 traz um som com a pegada da música originária da Mata Norte, elegantemente alinhada aos ritmos de sua pesquisa mundo afora. Um passeio lúdico permeado pela música brasileira, o Ska, além da música africana, os ritmos caribenhos, muito Reggae  e Rock N´Roll.

Para cada apresentação, Sid3 prepara um repertório especial, com versões de Reggae, forró, coco, além do seu repertório de músicas autorais, dançantes e bem ritmadas.

João Paulo Rosa – Imagem: Divulgação

JOÃO PAULO ROSA E O EITO (NAZARÉ DA MATA)

O Eito é um agrupamento de pessoas numa mesma tarefa, num mesmo trabalho, numa mesma direção. Assim, depois de compor vários grupos musicais, que ainda o faz, João Paulo Rosa mergulha em carreira solo. São mais de 20 anos em grupos diversos, passagens por vários lugares, festas e festivais, sempre na cozinha, seja na banda Ticuqueiros, como também outros grupos como Valfrido Santiago e Arreboque, Mestre Santino Cirandeiro e Tercina, dentre outros projetos diversos e como batuqueiro de coco, ciranda e maracatu de baque solto – suas influências mais cruas.

João Paulo Rosa e o Eito é onde ele vem cantando e tocando suas composições, ou de amigos e parceiros. Se lançando ao desafio de tocar bateria e cantar, fazendo um som mais Pop com suas influencias das culturas populares da Zona da Mata Norte de Pernambuco, lugar onde viveu e nasceu.

Depois de sermos pegos pela pandemia, conseguiu continuar a formatação do projeto, com ensaios intercalados e pequenas pausas, chegando ao fim de 2020 com um repertório autoral para mostrar ao mundo.

João Paulo contou um pouco sobre a importância que ele enxerga na realização do evento para a Zona da Mata Norte:

“Evento muito importante, feito por quem nem sempre tem oportunidade de estar em um festival com boa estrutura para mostrar sua música de forma confortável. A Música Reside no Kaos é um evento necessário por englobar essa pluralidade de nossa região, de tantas influências que vão do Pop ao regional. Infelizmente nem todos puderam estar nos eventos anteriores devido a essa distância entre as cidades e a falta de transporte, e muitas vezes, condições financeiras para se locomover. Essa edição, devido a pandemia, tem outro motivo para não estamos todos juntos e misturados. O festival tem um peso enorme nessa questão de abrir pro nosso grito. O artista que quase sempre está às margens, poder dar seu grito pro mundo.”

Ele também revela suas expectativas para o próximo evento:

“Que seja um meio para cada grupo/artista buscar meios de se locomover ainda mais por aí. Desta vez como artista solo, penso que se pudermos aproveitar a oportunidade para, a partir desta edição, podermos batalhar novas oportunidades, a gente aumenta ainda mais o peso do festival, e instiga mais gente a chegar fazendo música também.”

Valfrido Santiago – Imagem: Divulgação

VALFRIDO SANTIAGO E ARREBOQUE (GOIANA)

Natural de Goiana, Valfrido Santiago iniciou sua carreira musical nos anos 80, tocando nos bares da cidade na companhia dos músicos Rosildo Oliveira, Paulo do Anjos e Nicolau Araújo. É também dessa época a criação da banda Trophas, que teve notoriedade por possuir como principal característica um repertório que era formado prioritariamente por músicas autorais e por composições de músicos goianenses, entre eles: Aluísio Gomes, Nado, etc…

Em meados dos anos 2000, Valfrido monta a banda Amoenda, que teve um papel relevante na música denominada de “alternativa” da Zona da Mata Norte do Estado, com músicas e arranjos derivados dos terreiros de cultura popular da região.

Dando continuidade ao seu trabalho musical, chegou a hora de levar a frente um novo projeto, Valfrido e Arreboque, muito bem acompanhado pelos jovens e competentes músicos, Izaias Trajano (contra baixo, voz e percussão), Samira Oliveira (bateria, voz) e João Paulo Rosa (percusão e voz), onde apresentam composições frutos de encontros musicais com outros poetas e compositores de Goiana, como: Zé Torres, Wilfred Gadelha, Luziano Jardim, Sebastiana de Lourdes e Carlos Tampa.

A seguir, Valfrido fala da relevância que o evento A Música Reside no KAOS representa na região:

“Eu não participei da primeira edição do festival, foi numa época que eu estava um pouco afastado por conta das viagens de trabalho, que não me deixava muito tempo pra estar mais próximo do que estava acontecendo. Toquei num evento do Kaos, se não me engano em 2016, na Saboeira. Pra mim, todas as oportunidades onde se consegue ter música autoral da Zona da Mata como atração principal é uma grande satisfação. A existência do Kaos e de outros festivais, que, infelizmente, ainda são poucos, que possuem esse direcionamento são fundamentais.”

Das suas expectativas para a segunda edição do A Música Reside no KAOS:

“São as melhores. Infelizmente, devido ao momento que estamos vivendo, o festival não terá público. Mas, será uma oportunidade de termos vários grupos da região registrados com uma boa estrutura, num material que poderá ser consultado pela internet. E esse registro é muito importante.”

Banda Usinaria – Imagem: Reprodução/Instagram

USINARIA (GOIANA)

A Usinaria é uma banda que mistura Rock/Metal/Fusion com ritmos e sonoridades típicos da música pernambucana, carregando influências que vão desde Dream Theater até Luiz Gonzaga.

Criada no município de Goiana, uma das cidades da Zona da Mata Norte marcada pelo cheiro doce, a fuligem escura e a paisagem homogênea provenientes do cultivo de cana-de-açúcar, a banda Usinaria começou seu processo criativo em 2011.

O som da Usinaria é pesado, com guitarras distorcidas, harmonias complexas e bateria marcante. Porém, tudo vem temperado com uma pegada regional: as melodias, as células rítmicas e os riffs. A Usinaria traz em suas letras temas ligados ao Nordeste: o cangaço, a seca, o trabalho rural, as lendas, a natureza e o descaso social.

Bem recentemente, a Usinaria lançou seu primeiro álbum e o guitarrista Felipe Barnabé fala um pouco sobre o processo que ajudou a compor esse trabalho e da importância do evento:

“O álbum da Usinaria começou a ser gravado por volta de 2015. Desde então tocamos algumas vezes, mas a projeção do Kaos é bem maior, então estamos ansiosos. Afinal é um trabalho bem distinto, mas não é muito uniforme. Usinaria é ouvir do frevo ao jazz, do metal ao maracatu e etc. A importância de fomentar e mostrar os artistas locais que são maravilhosos, cada um no seu nicho, cada um do seu jeito. A iniciativa é fantástica. Poderia ter todo ano, seria um sonho…”

O baixista Izaias Neto complementa com mais detalhes:

“A Usinaria tem uma relação muito próxima com o Kaos. A banda tinha acabado de ser formada no primeiro evento (nos eventos anteriores ao A Música Reside no Kaos), então acompanhar as apresentações foi um grande aprendizado. Então fomos convidados para tocar. Essa participação foi fundamental para o amadurecimento do trabalho. Passamos por muitas mudanças desde aquele show, então torcemos para que esta edição do A Música Reside no Kaos seja um novo marco para a banda.”

Ele continua falando sobre a relevância do KAOS como movimento cultural:

“O Kaos é um grito de resistência da cena alternativa da Mata Norte. Esse tipo de expressão musical vem sofrendo vários golpes, em especial a falta de renovação e fomento de novos artistas e grupos. Acreditamos que o evento pode colaborar para que mais pessoas se interessem em ouvir, criar e fazer parte desse movimento.”

Banda Pagan Spirits – Imagem: Divulgação

PAGAN SPIRITS (TIMBAÚBA)

Oriunda do interior de Pernambuco, mais precisamente da cidade de Timbaúba, eis que surge em 2006 a horda Pagan Spirits, idealizada pelo vocalista Marques e pelo baterista Marcondes Ramos. Para completar o time, convocam o guitarrista Erickson “Nenzo” Dinoá, que já tinha tocado com este último em outras bandas e já possuía amizade de longa data com ambos.

Com uma sonoridade inicialmente calcada num Black Metal sujo, ríspido e cantado em português, surge no mesmo ano da sua fundação a demo “O Despertar da Morte”, contendo três músicas que já demonstravam para que veio essa horda, tendo uma boa aceitação no meio underground e por amantes do estilo. Aproveitando o gancho da boa receptividade, em 2007 sai o segundo petardo, “Reino da Escuridão”, que demonstrava naturalmente uma evolução em relação ao trabalho anterior.

Show são realizados no Estados de Pernambuco e Paraíba e a banda começa a ganhar maior notoriedade entre os headbangers a nível nacional. Neste período, o baixista Inácio Júnior é integrado oficialmente na formação da banda, deixando as apresentações ao vivo ainda mais insanas e bastante coesas sonoramente. Os shows foram ocorrendo e a primeira baixa ocorre: o baterista Marcondes deixa a banda devido a mudança de residência estadual. Em seu lugar, é recrutado Luiz Gutierriz, irmão do baixista Júnior (ambos ex – Asmoudan). Com essa alteração, a sonoridade passar a ser um mix entre o Black e o Death Metal.

A banda hoje segue firme e forte na estrada, já tendo dividido palco com bandas internacionais de renome entre tantas várias outras de PE e PB, com um único intuito desde o seu início: manter acessa a chama do Negro Metal!

A Pagan Spirits foi uma das bandas que se apresentaram na primeira edição do A Música Reside no KAOS, e quem falou dessa experiência foi o guitarrista Nenzo:

“Tocar no Kaos foi gratificante pelo fato de todas as bandas serem do circuito underground, e todas tiverram seus respectivos trabalhos muito bem valorizados com a estrutura de logística, palco e som oferecidos pela produção! Por vezes, é raro eventos gratuitos oferecer as bandas a estrutura básica e a primeira edição do festival se tornou um marco justamente pelo profissionalismo demonstrado por todos os envolvidos.”

Nenzo também falou sobre as expetativas de participar do evento em meio a pandemia:

“Infelizmente, estamos limitados pelo fato da pandemia e temos que nos adequar para ir retornando aos eventos da forma que é possível! É uma verdadeira vitória acontecer a segunda edição durante este período. Tenho certeza que todos estão com saudades de subir no palco e mostrar sua arte! E assim que possível, voltar aos moldes tradicionais de eventos!

Banda Prisma Orbe – Imagem: Divulgação

PRISMA ORBE (GOIANA)

A banda Prisma Orbe foi formada em julho de 2003, originária da cidade de Goiana – PE. O seu nome significa “vários lados de ver o mundo”. Sua música tem como influência a matriz do Rock nacional, porém está sempre dialogando com outras vertentes, tais como o Blues, a MPB e o Samba.

As composições da banda são carregadas de metáforas e imagens líricas. A Prisma Orbe vem mostrando uma construção única de sua musicalidade. Com uma proposta de misturar influências, a Prisma Orbe vem trabalhando desde 2003, fazendo questão de fugir de rótulos e estereótipos musicais, buscando construir o seu som com palavras inteligentes, de uma poeticidade ímpar, fugindo da linguagem direta e simplista.

A Prisma Orbe participa do cenário musical da Zona da Mata Norte, tendo se apresentado em diversos e principais eventos da região. A banda possuí um EP de 2006, de título homônimo e outro EP de 2007, o “Diante dos Olhos”. Em 2017 lançou uma demo de quatro faixas e este ano se prepara para lançar o primeiro álbum completo.

A Prisma Orbe é uma das bandas goianenses do cenário alternativo mais longevas e ativas. Participaram da primeira edição do A Música Reside no KAOS, e o vocalista Luziano Jardim (Mago) conta dessa experiência:

“A experiência foi a melhor possível. Primeira vez que tocamos de igual para igual, sem essa de escantear bandas por rótulo, de ter um camarim, do cuidado da equipe de palco com o som. Isso a gente não esquece. Sobre a importância do festival para a região, faltou mais edições com o apoio do governo do estado, já que o governo municipal da época nada fez pelo festival.”

Das expectativas para a segunda edição, ele conta:

“São as melhores, acho que esse tem tudo para ser um grande registro, já que o formato serão as gravações de oito bandas da Zona da Mata pernambucana.”

O Festival A Música Reside no KAOS será online, onde a partir do dia 05/03/2021 serão postados as apresentações dos artistas em seu canal do YouTube. E o Movimento MATA Goiana fará toda a cobertura do evento com conteúdos exclusivos sobre as atrações e todo o festival.

Acesse a PLAYLIST FESTIVAL A MÚSICA RESIDE NO KAOS para conhecer as músicas dos artistas/bandas participantes.

Confira também a matéria que fizemos sobre “A importância da organização: “A Música Reside no KAOS”
https://matagoiana.com.br/a-importancia-da-organizacao-a-musica-reside-no-kaos/


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