JORNAL A CIDADE – 1 A 15 DE OUTUBRO DE 2007

Coluna Alto falante, por Luiz Duarte

Durante a semana de música e oficinas promovidas pela Saboeira através do projeto Goiana Pró-Música, alguns aspectos relevantes podem ser analisados; o povo goianense gosta e se orgulha da sua cultura, desde que esse sentimento seja provocado.

Um bom exemplo foram as retretas, com as bandas musicais Curica e Saboeira, começando suas apresentações quase sem nenhum público e aos poucos o povo ir se aglomerando e interagindo com o repertório, que iam dos tradicionais dobrados aos frevos.

Paradoxalmente este é o mesmo público que, por influência midiática, aceitam em suas festas e lares músicas com mensagens do tipo “quem vai querer a minha piriquita?” ou “eu vou jogar uma bomba lá no cabaré!”.

Não quero dizer aqui que pretendo interferir no gosto popular, pois isto seria ilegítimo, contudo, é necessário avaliarmos o papel que a cultura e a identidade nela contida têm na formação e na consciência do povo.

Foi extraordinário ver a Curica e a Saboeira, que em suas histórias tem na rivalidade uma das suas marcas, imbuídas num sentimento que as irmanaram num mesmo objetivo. Como também a emoção e a receptividade da plateia que prestigiou o maestro Luis Carlos Durier, regendo a Orquestra Sinfônica Jovem da Paraíba de forma tão entusiasmada.

Então, talvez caibam alguns questionamentos: será que é mesmo necessário para a indústria do entretenimento oferecer ao público, uma cultura com um nível tão baixo? Será que não estão subestimando a inteligência do nosso povo? Não será também responsabilidade dos governos oferecer cultura de qualidade, uma vez que as prerrogativas do Estado é oferecer educação? Ou será que governantes e empresários da mídia levam para as suas confraternizações e lares, o Rei da Pisadinha ou coisa que o valha?

Mas, voltando à questão inicial, é de suma importância que esse sentimento de responsabilidade e afeto com a cultura de Goiana se alastre, principalmente para os homens que a governam, pois as bandas musicais Curica e Saboeira não são apenas referências históricas e uma parte importante da nossa identidade, mas, também, são ferramentas de transformação sócio-cultural para muitos jovens que hoje se encontram sem alternativa.