Opinião: Nossa alma festeira e (in?)sana

Houve de tudo na campanha eleitoral. Libera tudo do Natal ao Carnaval? Quem responder sim tem um tempinho para repensar.

Imagem: Reprodução – Instagram.com/estudiolives

Por Cristina França

Uma matéria no UOL sobre o Carnaval de Olinda – o frevo está calado.
O anúncio do filme O Baile do Menino Deus como presente de Natal da Prefeitura Municipal do Recife – em vez do espetáculo no Marco Zero.
Duas notícias do quanto a Cultura é alma e/ou baluarte da economia criativa. O frevo calado não traz retorno financeiro. O frevo ouvido não é solitário, une almas, mas não socializa bolsos. O filme já pagou técnicos e atores e estes certamente já precisam de mais dinheiro para sobreviver e mais, viver. Nada está no lugar.

Goiana não tem filme, nem espetáculo. Até o momento não vi nem um parabéns oficial às Pretinhas de Congo pelo título de Patrimônio Vivo de Pernambuco. Os contemplados pela Lei Aldir Blanc serão conhecidos nesta segunda-feira, 14. Demora que nenhum público aguentaria num teste de som de algum evento. E neste abandono muitos enxergam festa como saída financeira e rebelam-se bradando: houve na campanha eleitoral tanta aglomeração e ninguém disse nada.

A nossa alma festeira é o mote da insanidade. E, creio, evocar esta alma em semelhante situação é evocar tudo o que ela não tem e não representa. Festa não é solidão. A morte é solitária. Cultura não é eleição. Políticos até podem achar que é. Nos cabe defender o óbvio e fincar o pé: recursos para deixar o corpo em casa e proteger o que amamos. Goiana, para territorializar a coisa toda, não tem um planejamento cultural. Pelo que sei nem sabe quem são os que vivem de fazer, preservar, divulgar o que nos identifica e une.

Os recursos da Lei Aldir Blanc serão repassados. Não dá para chorar atrasos. Assim como convém não esquecê-los. Natal às portas. Reveillon na sequência. Carnaval. O que há de propostas para apresentações monitoradas? Não seria este um momento para valorizar os pequenos públicos e as manifestações de raiz?

Quem faz cultura tem certamente as respostas. E prefeitura tem o dinheiro. No meio disto tudo só não devemos cogitar velórios

O desespero dos que vivem de festas e eventos é tão compreensível quanto a calma de quem tem as contas pagas e a geladeira cheia. E entre um mundo e outro rola até desdém. A gestão municipal não tem dado provas de capacidade para gerenciar crises, mas tem reiterado a incapacidade de ouvir com empatia e disponibilidade os ‘cultureiros’ que se erguem e ainda têm propósitos. Sugerir que se encontrem à distância de 1,5 metros e com máscaras não é pedir muito. Pedir demais é que se cale quem tem só a certeza de que 2021 começa em 1º de janeiro sem perspectivas. Não na alma, esta sobreviverá. No bolso mesmo.

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