Opinião: Mobilidade Cultural é coisa de mulher

Ruas inseguras para mulheres não contribuem com o ambiente cultural que Goiana promete.

Rua Direita, principal rua de Goiana, no período da noite – Imagem: Blog do Anderson Pereira

Por Cristina França

No último sábado (21), entrando no domingo (22), véspera e dia do silencioso Dia do Músico, a anual serenata comemorativa saiu da Praça João Pessoa, em Goiana, às 23h30 e eu não estava lá. Não por falta de ônibus, problema absurdo que precisa de urgente solução. Teria ido a pé. Moro na rua Santa Teresa, seguindo pelo Convento do Carmo – a alguns desertos metros, aquela hora – do local da concentração. A insegurança travou a chave do portão. O detestável medo me deixou na companhia da Netflix.

Juntando A com B para criar conexões cito a cômica (tapa na real) postagem no Instagram @goiana_ordinaria_pe desta quarta (25) comparando câmeras de vigilância da ‘Espanha’ e da ‘França’ a quatro idosas sentadas na calçada vigiando a vida em Goiana. Meu comentário no post: ‘pena que dormem cedo’. Mulheres vigiando mulheres. Sororidade discutível salvando a mobilidade. Mas saímos das calçadas, das ruas, dos coretos, dos batentes, das praças.

Já disse e repito: Goiana morre cedo. Diariamente. Às 16h para quem vai aos distritos. Às 18h para quem vai aos bairros fora da ‘sede’. Às 20h ainda respira para quem tem carro, moto ou bicicleta. E com a cidade morremos, especialmente, nós mulheres. Homens se movem mais facilmente a qualquer hora, para e de qualquer lugar. Isto é um fato. Ainda. E precisa deixar de ser.

O sol é macho. A lua é fêmea. O que torna o receio da noite por parte de nós mulheres ainda mais doloroso. Temos que entender que mobilidade, cultura e segurança estão entrelaçadas nos nossos corpos de forma tão apertada quanto libertadora. Não podemos nos acontentar com as 12 horas que nem são nossas por inteiro. O dia tem 24 horas. Nesta briga, a mobilidade cultural é, antes de tudo, coisa de mulher. 

Sim. É verdade. Tentei por duas vezes ir assistir o ensaio dos Caboclinhos Canidés em Nova Goiana e não tinha transporte (leia-se ônibus). E se tivesse, pensando bem, estaria segura para voltar depois das 22h? Talvez não no estado de abandono em que se encontram todas as manifestações culturais em Goiana. Mas, com o tempo e retorno triunfante da nossa alma festeira à luz do luar, nós conquistaríamos, de direito e de fato, as 24 horas que nos são devidas. Felizes somos mais fortes e cultura traz felicidade.

Pensar uma política cultural para nosso território significa criar um ambiente acolhedor e seguro para todxs. Fazer de Goiana uma cidade na medida da mulher passa especialmente por aí. Quando dizemos que a medida da mulher é inclusiva somos muito mais que feministas, somos realistas, desenvolvimentistas e humanistas. Nesta linha de raciocínio cultura não é adereço. Cultura é.

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    Comentário por turkce em dezembro 10, 2020 as 6:51 am