Opinião: Cultura é o reboque

Precisamos de definições urgentes sobre o que está na mesa para os próximos quatro anos quando o assunto é Cultura em Goiana. Especialmente porque ela é um bocado de coisa.

Caboclinhos Cahetés de Goiana – Imagem: Site Goiana-PE

Por Cristina França

Vamos situar no nosso território goianense quatro pontos que a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – Unesco aglutinou como ações positivas em relatório de 2016 que avaliou dez anos de experiências de promoção da diversidade das expressões culturais para o desenvolvimento em vários países: 1. apoiar sistemas sustentáveis de governança cultural; 2. equilibrar o fluxo de bens e serviços culturais e a mobilidade dos atores culturais; 3. Integrar a cultura em quadros de desenvolvimento sustentável; 4. promover os direitos humanos e as liberdades fundamentais. Situamos? E então, como estamos? Mal, muito mal.

No momento, a cultura está atrelada ao turismo numa mesma secretaria. O item 3 pode ser o caminho apontado. Turismo é indústria verde se bem gerenciado, se aglutinador das várias nuances de um mesmo fim: o viajante quer se encantar com o que há e com o que não há (poluição, exploração de mão-de-obra, destruição do natural). Ora, há tanto a se ver e há ainda mais escondido. E chegamos no item 2 como resposta a esta crônica falta de visibilidade. Fluxo é tudo. Se encontrarmos uma pretinha do congo de Carne de Vaca de papo com um caboclinho de Nova Goiana na areia de Ponta de Pedras ao som do que rolou no Kaos (referência para iniciados), após uma apresentação em setembro, a coisa fluiu.

Qual papo está rolando? O item 4 chega na onda na sua melhor forma. Direitos humanos e liberdades fundamentais sendo escancarados e compreendidos desde o entrelace da flecha com o cortejo nos bancos da escola e nas ruas de cada um. Entramos no combate à violência, da verbal à física, nos programas de atenção básica à saúde, no apoio à segurança pública. Cultura é 1001 utilidades. Se entendemos isto, o item 1 é realmente o primeiro a ser levado em conta. Justo porque ele é o X da questão.

Cultura não pode ser o plano B. Ela é aquilo que o marketing chama de diferencial do produto. O produto Goiana precisa se enxergar de dentro para fora (o turismo tende a olhar de fora para dentro e a enxergar estereótipos). Apoiar os fazedores de cultura sem colocá-los a reboque do calendário numa exaltação datada é o que temos que fazer. Não é coisa difícil. É só um bocado de coisa junta, sendo vista como uma escolha política e diária. Cada um sabe o que faz, só precisa de amparo. E atenção a esta palavra. Amparo, não esmola. Amparo, não enfeite. Sugiro à gestão municipal ler o excelente número 27 da Revista Observatório Itaú Cultural. Acesso pelo www.itaucultural.org.br

Não estamos olhando para uma bola de cristal com previsões de Ano Novo. No entanto, a saída da montadora Ford do Brasil é um indício de que é inteligente contar, a longo prazo, com o que somos e não com o que temos. Aglutinar a cultura e sua expressão monetária chamada economia criativa dando a ela mobilidade e visibilidade sustentáveis nos colocará no caminho e no comando do presente que queremos. Imaginar esta realidade é um bom começo. Vamos todos para setembro de 2024 felizes e com dinheiro no bolso.

O Sistema Municipal de Cultura está no papel. O Conselho Municipal de Cultura também. O Fundo Municipal de Cultura é nebuloso, não se sabe bem onde está. Mas tudo isto é apenas um bocado de coisa que se resolve rápido. Querer é poder. Estamos embalados pelo sentimento de que a sociedade civil organizada tem mais força do que salvadores da pátria ainda querem fazer crer. Se a Cultura é por nós, quem será contra nós? Nós mesmos, dirão os ressabiados que assistiram tantas vezes o ego atrapalhar a união. A hora de subir no salto é agora. Todos juntos.

  1. Temos tudo e ao mesmo tempo nada, somos sobrevivente de uma onda gigante de pessoas que nos representam e que se diz gostar de cultura e na verdade não entendem de nada para nada, nada! Resistindo sim ao tempo, como discriminação , preconceito, perseguição…. Só porque mostramos ao longo do tempo a nossa história, como as Pretinha do Congo, os vassalos , os escravos, dentro dela! De forma dançante, os caboclinhos, os seus Pages, seus, feiticeiros, juntos com seus curumins , os maracatus de baque solto com seus cortadores de cana, juntos com seu rei e rainha, na sua cabeça, seu guarda sol , para não ser queimado pela a temperatura do tempo, não sei quando vão enxergar, que nós temos o que mostrar e gerar emprego e renda. Os meus sentimentos.

    Comentário por Lula dos caboclinhos em janeiro 23, 2021 as 2:05 pm
  2. Lula, basicamente 40 anos fora do meu lugar de referência e ao voltar de mala e cuia vejo que o que eu não conhecia ainda hoje não se conhece como se deveria. Mas, se antes eu não tinha saberes, hoje eu tenho e continuo aprendendo. Simboraaaaaa. A gente muda o que está errado.

    Comentário por Cristina França em janeiro 23, 2021 as 5:15 pm