No ano passado, o baldo do rio estava em festa como nunca tinha visto, com várias atrações culturais e artísticas, além da banda filarmônica que chegou com seus músicos tocando as tradicionais marchas de procissão. Mas nesse ano foi diferente.
Por Hevelyne Pereira
Para o ledor que se debruçou para realizar essa leitura, começo dizendo que esse é um texto reflexivo sobre costumes.
Em conversas com amigos, um disparou a seguinte frase: “Se um goianense que saiu daqui a 10 anos atrás voltar para visitar os seus parentes e amigos, não reconhecerá mais a cidade”. Essas palavras ecoaram na minha cabeça no momento que foram ditas, ficaram adormecidas até voltarem com várias reflexões no dia 29.06.2024 na tradicional procissão de São Pedro, o padroeiro da cidade.
Não há registros oficiais, mas como observadora atenta das bandas de música da nossa cidade, pela primeira vez não vi a Curica e nem a Saboeira na procissão.
No ano passado o baldo do rio estava em festa, nunca tinha visto, grupo de pífanos, bacamarteiros, trio de forró pé-de-serra, trio elétrico com a banda da paróquia e a banda filarmônica que chegou com seus músicos tocando as tradicionais marchas de procissão. Em tom de muita alegria, momento em que a cidade desce para a comunidade do Baldo do rio, havia também uma certa poluição sonora, aquele formato era novo. A banda de música não conseguia nem deveria competir com o trio elétrico, de alguma forma o cortejo religioso seguiu e todos deram um jeito de serem ouvidos, mas nesse ano foi diferente.
A procissão foi atípica, primeiro por que os santos chegaram cedo, os fiéis foram chegando enquanto os santos aguardavam em frente à casa de São Pedro, quer dizer todos chegaram, menos as bandas.
Já há um tempo que as bandas não estão tão ativas nas festividades religiosas do nosso município se comparado ao passado, antigamente as bandas se reversavam nas procissões e nas retretas que geralmente acontecia após a missa da festividade religiosa.
Na infância participei da banda Saboeira e lembro que cada procissão tinha uma banda que participava de forma regular, essa dinâmica mudava um pouco a depender da gestão municipal, mas de costume era assim que funcionava.
Com um repertório próprio, era comum vermos os músicos com as partituras postas com um pregador nas costas dos colegas da frente, ao contrário de alguns dobrados e frevos que pelo ato de repetição rapidamente se decorava, com as marchas de procissão era diferente, em alguns casos por alguns músicos precisavam ser lembradas, já que eram leituras realizadas esporadicamente, ou as vezes era uma marcha nova. Nessa condução, sempre ia um músico iniciante ou arquivista para ficar responsável pela distribuição e coleta dessas partituras.
Para os músicos das bandas filarmônicas tocar em procissão é importante, pois na maior parte dos casos recebiam o cachê com uma maior celeridade se comparado a outros eventos públicos e festividades que participavam. Nunca soubemos de fato quando o evento era pago pela prefeitura ou pela paróquia, ou se era a paróquia que solicitava a prefeitura, esse era um tipo de informação que não chegava aos músicos, mas o cachê sim.
As apresentações para um jovem aprendiz ou até para um músico veterano é importante pois a atividade remunerada é responsável pela a manutenção das suas necessidades básicas, esses profissionais vivem da música, tocar é a garantia da compra da palheta nova, comprar o lubrificante das válvulas, polidores, flanelas, troca de case entre outras atividades responsável pela manutenção dos instrumentos e do próprio músico.
Ressalto que, se apresentar é importante para qualquer artista, saúdo também os que conduziram e animaram todo o cortejo religioso em cima do trio com músicas alegres em ritmo de forró e axé, dando outro tom para a caminhada. Diferente do que era de costume assistirmos na cidade, não podemos ignorar que a igreja tem seus ritos próprios, com a constante mudança dos párocos que conduzem a igreja no nosso município, fica oscilante as práticas e algumas conduções que vem e vão a depender da postura de cada líder religioso com a sua comunidade.
As diferenças acrescentam, assim como as pessoas não são iguais as cidades também não. Diante disso, meu questionamento é com os nossos, os “goianenses”, qual é a noção de conhecimento da nossa história que temos? O que gostaríamos que permanecesse e o que gostaríamos que mudasse?
Esse é o ano de se fazer essa pergunta!
Lembro quando por unanimidade, votado pelo legislativo e sancionado pelo executivo, o município perdeu seus feriados municipais, entregaram as chaves de São Pedro padroeiro da cidade para Jeep, importante ressaltar que no estado laico os feriados religiosos não fazem muito sentindo, mas levando em consideração a construção histórica do nosso território frente ao nosso processo de colonização, os feriados religiosos fazem parte de uma tradição.
Incomum é ter um lugar que não tenha sua data de emancipação ou aniversário comemorado com o feriado. Goiana que é pioneira em quase tudo saiu na frente, hoje somos uma das poucas cidades que não comemora com o “feriado” seu aniversário. Para um funcionário da prefeitura que geralmente lança um decreto e torna ponto facultativo isso não faz a diferença, mas para os trabalhadores do comércio e os estudantes isso faz toda a diferença. Ou seja, a nova geração que ocupará no futuro os cargos diversos em nossa sociedade terá consigo já institucionalizada a não importância destas datas.
Sendo assim, trago a definição de “costume” que entende-se pela transmissão de hábitos históricos, modo de pensar e agir característico de um pessoa ou um grupo social. Me remeto assim, a frase do amigo lá do início do texto e vejo que ele falou de reconhecimento, daquilo que nos faz sermos o que dizemos ser, daquilo que realmente somos, do que é imposto como nosso, do que é retirado a depender dos interesses dos nossos representantes e daquilo que queremos preservar.
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