Opinião: Autossuficiência sabotada

Os fazedores de cultura goianenses estão se juntando para fazer a gestão municipal enxergar o túnel. A luz, mesmo que tremulante, nunca deixou de existir.

Imagem: Costa Neto/Divulgação

Por Cristina França

A Lei Orçamentária Anual – LOA 2021 prevê para o setor da Cultura R$ 7.015.142,00. Colocada dentro da Secretaria de Turismo, neste valor estão previstos R$ 53.550,00 para a manutenção do Conselho Municipal de Turismo. A implantação do Conselho Municipal de Cultura não é mencionada. Há uma destinação de R$ 156.672,00 para a ‘manutenção das atividades do Fundo Municipal de Cultura’. O que chama a atenção: Fundo não tem atividade, tem dinheiro (ou não). Carece de explicação.

O Carnaval passou. Nem on. Nem off. Além de tentar contornar praias cheias com a  vigilância sanitária em ação, nada se viu ou ouviu por parte da gestão com relação a nossa maior festa. Rival do São João em investimentos em tempos normais de temperatura, pulso e pressão. Na LOA brilham R$ 3.641.310,00 para ‘realizações de festividades do calendário de eventos’, além de R$ 160.100,00 para ‘implantação e gestão de festividades nacionais e internacionais’ – pelo visto, a gestão acredita que o túnel que se busca tem potencial para ganhar o mundo. Menos mal, já e alguma coisa.

A autossuficiência cultural é fato. O Mata Goiana tem total consciência disto e ao verbalizar em live no Instagram, na última terça, 22, falou por todo mundo, do músico ao brincante. Somente para deixar claro o quanto se pena num território tão rico: as Pretinhas do Congo do Baldo do Rio foram elevadas à condição de Patrimônio Vivo de Pernambuco no dia 04 de dezembro do ano passado e os poderes constituídos goianenses nem se deram ao trabalho de, imediatamente, providenciar uma decoração carnavalesca em homenagem a elas. Não teria Carnaval, teria orgulho nas ruas e artesãos ganhando pela arte de mostrar o que só Goiana tem.

Março chegando e a Cultura em compasso de espera e sem destino certo. Talvez seja direcionada para a Secretaria de Educação. Vale uma discussão racional sobre esta possibilidade. Adianto que sou favorável à mudança. Estamos desaprendendo por falta de convivência. Nossas raízes só aparecem e flutuam entre fevereiro e março, tímidas, quase pedindo licença para existir. Se não mergulhamos fundo no que somos como podemos manter, fundir, reinventar nossa alma festeira? Um alento nos dão os R$ 267.750,00 destinados à ‘criação, implantação e manutenção de oficinais de educação musical’. Ensinar é garantir a sobrevivência pelo apreço e pelo aplauso.

A frente ampla pela Cultura, que está ganhando forma e força em Goiana, nasce de uma situação de penúria. Há músicos vendendo os próprios instrumentos para sobreviver. Terrível. Não dá para acreditar que se cogite sabotar tudo o que pode ser feito mesmo com distanciamento social. Ensaiou-se uma resposta ao Carnaval inexistente. Ficou no ensaio. O calendário de eventos certamente não terá eventos. Mas, tem uma turma de branco dançando na porta da igreja e outra swingando com a tropa. Tem uma flecha de caboclinho que não está à venda (e poderia estar – economia criativa dá dinheiro). Tem pretinha para virar produto cultural de respeito.Tem prêmio musical. Tem quadrilha pensando o que fazer no São João. Se houver diálogo construtivo, o túnel de 2021 pode surpreender positivamente.

  1. Texto maravilhoso, temática pertinente. “O Carnaval passou. Nem on. Nem off.” é lamentável para o nosso município e os fazedores de cultura e para quem indiretamente depende dela, como os ambulantes por exemplo.

    Comentário por Hevelyne Figueirêdo em fevereiro 26, 2021 as 7:39 pm
  2. A sabotagem cultural em Goiana é antiga e criminosa. A “cultura paralela” que preda a Cultura Tradicional de Goiana, é formada por funcionários públicos e comissionados que ostentam falsas agremiações e associação para vender “shows” à Prefeitura. Estes, com informações privilegiadas, interceptam os recursos e dão as migalhas para os fazedores de Cultura Tradicional de fato. Essa gente não sabe viver longe do teto da Prefeitura e dos prédios públicos, há até um traficante de influência (crime) recebendo pelos serviços que é atribuição de 3 artesãos do barro legais e oficiais contratados da Prefeitura.

    No final da gestão do ex-prefeito Fred Gadelha, estes da “cultura paralela”, tentaram se apoderar da Cultura Tradicional de Goiana e de todo recurso que supostamente seria fornecido pela Fiat. Forjaram um “Conselho de cultura” onde eles mesmos seriam os protagonistas sem o voto do povo da Cultura Tradicional. Houve veemente protesto do então padre Limacedo e de todos os representantes da Cultura Tradicional no Ministério Público Estadual, onde foram recebidos pelo promotor e, onde corre um processo sobre o caso.

    Comentário por Fernando Nascimento em março 2, 2021 as 1:03 pm