Opinião: A raiz da asa

Dia Mundial da Educação, celebrado nesta quarta, 28, convida a refletir sobre raízes num mundo onde muito se fala de asas. E raízes são metáforas do que chamamos cultura

Imagem: www.revistafenix.pt

Por Cristina França

O anúncio de distribuição de 10 mil tablets para alunos e professores da rede municipal de ensino em Goiana é animador. Aceleramos um processo que estava a passos de tartaruga e já comemoramos a conexão com o mundo. Nem imagino alguém dizendo que tem tablet mas não tem rede. Há certamente a compreensão de que não podemos ser pássaros trancados numa gaiola pela absoluta falta de um provedor. Conectar quem estuda é uma aposta na emancipação do todo pelo desempenho das partes. Asas para o que se desejar ser.

Plugados e direcionados para o conhecimento, para o mercado, para o futuro. A Educação está sendo levada a sério no nosso território, ao menos do ponto de vista dos recursos. As possibilidades são infinitas. Mas, todo pássaro pousa. E quanto mais lindas árvores para pousar, mais ele é feliz. Nem vê a raiz, só sente que ela está lá. Porém, estamos mal de árvores reais, os canteiros de nossas ruas foram dizimados e asfaltados sob um tenebroso silêncio. Um silêncio alimentado pela reiterada poda de árvores metafóricas chamadas cultura. A boa notícia é que as raízes sobrevivem.

“O poder requer corpos tristes”, disse o filósofo francês Gilles Deleuze. Que coisa triste não ter onde pousar ou pior, acreditar que não se tem. Urge levar raízes às escolas para que sejam sentidas, adubadas, convidadas para dentro das casas, lidas, pesquisadas, replantadas, amadas e cuidadas. Árvores culturais e árvores reais frondosas salvarão nossas mentes e corpos da tristeza. Sim, porque precisamos ter para onde ir, precisamos do que ver e ouvir, do que tocar e do que comer. E, sobretudo, precisamos do que falar. Quem são estes pássaros/seres goianenses? O que transmitem nos seus cantos?

Pessoas têm referências. Dadas pelo meio em que nasceram e vivem ou escolhidas pelo caminho. Normalmente as segundas são fundamentalmente influenciadas pelas primeiras. Ou seja, a raiz é o ponto. Sem ela não há sombra, não há repouso feliz. Dizem as boas línguas que a Cultura é prima da Educação. E ambas são um direito, ambas consolidam a cidadania individual e coletiva. Qualquer gestão eficiente com um projeto de cidade cidadã tem a obrigação de fazer da Cultura o ar que se respira.

O que queremos respirar então? Cultura é uma guerra narrativa, cidade cidadã arma todos com todas as armas e o final é um 1×1 que transforma e protege os guerreiros, favorecendo a grande festa que caracteriza o Brasil e nossa Goiana. Acontece tanta coisa no nosso território, nos terreiros, nas rodas de ciranda, nos ensaios de caboclinhos, na poesia dos nossos poetas (alô grande @ademaurocoutinho), na inspiração dos nossos músicos, no talento dos nossos artesãos. E nas escolas? Nas escolas o ar que vem da raiz deve encher os pulmões das asas. Professoras e professores, as primas unidas jamais serão vencidas e contam com vocês.

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