O KAOS aconteceu: Goiana é palco do cenário musical independente da mata norte

Mesmo com a pandemia, a edição online do festival “A Música Reside no KAOS” foi um sucesso

Gravação do Festival Online A Música Reside no KAOS – Imagem: Manu Leite / MATA Goiana

Por Guilherme Souza

Comprovando a importância da organização, a segunda edição do festival “A Música Reside no KAOS” aconteceu entre os dias 21 e 24 de janeiro, em Goiana, mais precisamente no Clube Saboeira, localizado na Rua Direita. Foram seguidos os protocolos de segurança, com todos os profissionais usando máscara e com o álcool sempre disponível para se fazer a higienização necessária. O evento ocorreu com sucesso. Foram quatro dias onde diversas bandas da Zona da Mata Norte pernambucana se apresentaram, mostrando seus novos trabalhos e algumas inclusive fazendo o primeiro show depois de um bom tempo paradas, devido a pandemia do Coronavírus.

Pelo palco do KAOS passaram as bandas e artistas:

Sid3 Sacrifício e Fé (Tracunhaém)

João Paulo Rosa e O Eito (Nazaré da Mata)

Lucas Torres (Goiana)

Valfrido Santiago e Arreboque (Goiana)

Usinaria (Goiana)

Tercina (Tracunhaém)

Pagan Spirits (Timbaúba)

Prisma Orbe (Goiana)

Luziano Jardim “Mago”, Coordenador do Festival – Imagem: Manu Leite / MATA Goiana

Com um lineup bem diversificado, indo desde o Pop experimental de Lucas Torres até o Black Metal cantado em português da Pagan Spirits, o evento realizado pelo Movimento KAOS conseguiu reunir parte da efervescência musical que a Mata Norte vem apresentando há tempos, que é justamente o reflexo da mistura coesa de ritmos e influências que os músicos colocam para conversar, criando um universo onde o Baião e o Jazz se complementam. Com o incentivo do Governo do Estado de Pernambuco pela Secretaria de Cultura/Funcultura, a estrutura de palco, iluminação e som ficaram a cargo da Copa Produções. A Alcalinas Brisadas ficou a cargo da área audiovisual. Já a cobertura total ficou a cargo do Movimento MATA Goiana, que realizou entrevistas com as bandas após o final das apresentações, unindo forças e formando assim uma qualidade técnica exemplar, sem deixar a desejar aos festivais das grandes cidades. Todo o conteúdo registrado servirá como portfólio para que os grupos possam apresentar material de alta qualidade em qualquer outro evento e festival, e por consequência, promover a difusão da cena musical independente da região, estimulando assim toda a cadeia produtiva da área cultural.

Movimento MATA Goiana entrevistando as atrações musicais após as apresentações
Imagem: Manu Leite / MATA Goiana

Mesmo que o festival tenha ocorrido dentro dos conformes, com todas as equipes trabalhando em harmonia e os músicos se apresentando confortavelmente, é impossível negar a falta que o público fez durante as apresentações. Afinal de contas, a interação da banda com o público torna o ambiente propício a experiências intimamente ligadas com a agitação e o fazer cultural de um cenário. E a cena musical independente de Goiana está mais ativa do que nunca, fortalecendo sua relevância para a Mata Norte. Contudo, para que cenário continue se fortalecendo, é preciso que exista um espaço que sirva de base para as manifestações das expressões artísticas. E existe uma problemática que antecede a pandemia. Philippe Wollney, produtor cultural, editor e poeta goianense manda a ideia a respeito:

“Fica bastante complicado pensar em ações de formação de novas plateias sem que haja espaços de apresentações viáveis, e que valorizem o atual panorama cultural da Zona da Mata.  A cena independente sofre por ter este estigma, pois vive em um território que tem como referencial a cultura popular. Só que esta região sempre foi cosmopolita, isso vem desde o século 17, onde a sua população recebia no porto de Barra de Catuama, em Goiana, os navios vindos da Europa, efetivando nem sempre de maneira pacifica as trocas culturais com holandeses, franceses e portugueses. Quem mora mais especificamente no litoral da Zona da Mata sempre teve o olhar voltado para o oceano atlântico, e por isso, tudo no mundo lhe parece familiar. Somos antropofágicos culturais muito antes de o conceito ser criado por Oswald de Andrade. E Goiana já foi porto, tendo sido no século 19 a terceira cidade mais importante economicamente para o Estado, e hoje, com a duplicação da BR-101, a implementação do polo farmacoquímico da Hemobrás, a implementação do polo automobilístico da Fiat, a instalação da maior fábrica de vidros pelo grupo Brennand, a cidade volta a chamar a atenção novamente.”

Philippe Wollney, Produtor e editor do Festival – Imagem: Manu Leite / MATA Goiana

Wollney, que também é um dos idealizadores do Movimento KAOS, explica melhor o atual panorama cultural da Zona da Mata Norte pernambucana:

“O KAOS percebeu que nos últimos 20 anos, a região da Mata se insere na contemporaneidade, com uma efervescência de grupos de diversas vertentes do Rock, Pop, Reggae, Rap, Jazz, a Música Instrumental e de Câmara. E a região hoje possui grupos expressivos que precisam ampliar seus públicos, contatos com novos produtores e curadores, com formadores de opinião e crítica. É uma região cada vez mais urbanizada, mas uma região que ainda mantem profunda tensão entre o campo e a indústria, que sustenta uma diversidade cultural de matriz popular e também expressivos grupos musicais experimentando para além do folclórico, para além dos estereótipos deixados e talvez sepultados do movimento manguebeat. Esses grupos querem circular para além do circuito musical da região, firmar parcerias com outros produtores e buscar criar novos mercados.”

Devido a pandemia, o 2º Festival A Música Reside no KAOS será online
Imagem: Manu Leite / MATA Goiana

A segunda edição do festival “A Música Reside no KAOS”, mesmo reduzida em seu formato por causa da pandemia, conseguiu atingir sua finalidade: estimular a produção musical/técnica, com o objetivo de divulgar e melhorar a qualidade das bandas e artistas independentes da região. Por meio da mutualidade, músicos, produtores, técnicos, agitadores e fazedores de cultura em geral, organizados em coletivos e movimentos vêm apurando o intercâmbio cultural de apoios na Zona da Mata Norte, consolidando a resistência contra as intervenções de um sistema burocrático e atrasado.

“A organização outra coisa não é senão a prática da cooperação e da solidariedade, é a condição natural, necessária, da vida social, é um fato inelutável que se impõe a todos, tanto na sociedade humana em geral quanto em todo grupo de pessoas que tenha um objetivo comum a alcançar.”

– Trecho do artigo “Anarquia e Organização” escrito em 1927 por Errico Malatesta (1853-1932), teórico e ativista anarquista italiano.

Toda a equipe envolvida na realização do 2º Festival A Música Reside no KAOS
Imagem: Manu Leite / MATA Goiana

Os vídeos dos shows do 2º Festival A Música Reside no KAOS estarão disponíveis no dia 05/03/2021 no canal do YouTube do festival.
As entrevistas com os artistas estarão disponíveis no canal do YouTube do Movimento MATA Goiana.

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