O Aláfia vem aí!

Quinze anos depois, o evento que marcou uma geração em Goiana, vem celebrar o seu legado de manifestação cultural da identidade negra e popular de Goiana

Por Guilherme Souza

O nome Aláfia foi sugerido pelo saudoso babalorixá Pai Carmelo de Ogum, que dentro do oráculo africano, representa positividade, tudo que há de bom. Não poderia existir nome mais adequado para representar o que essa manifestação cultural significou para Goiana. Hoje, o evento faz parte da memória afetiva goianense, sendo sempre lembrado com carinho e saudade. O evento surgiu no ano de 2003, derivado de uma atividade de formação de fomentadores culturais da cidade, numa parceria entre a ONG Djumbay de Direitos Humanos e Desenvolvimento Local Sustentável. Em seis anos de existência de forma ininterrupta – acontecendo todo segundo domingo do mês (quem viveu essa época se lembra bem do carro de som anunciando pela cidade) – o Aláfia ampliou e diversificou a oferta de produtos socioculturais, além de ter promovido a valorização e preservação da cultura negra e popular da Zona da Mata Norte, despertando a consciência crítica e reflexiva das crianças, adolescentes, jovens e adultos, possibilitando aos mesmos, assumir quando necessário, o papel de agentes transformadores do fazer cultural da região, dando visibilidade e mostrando nossas raízes africanas.

Prestes a completar 21 anos em 12 de outubro, o Aláfia comemorará seu aniversário da melhor forma possível: celebrando seu legado, mas não de forma nostálgica, e sim, mostrando que continua sendo um evento de extrema relevância sociocultural. Essa edição tão especial será realizada nos dias 12 e 13 de outubro, com oficina, seminário e apresentações musicais com acesso gratuito a toda população. Em sua trajetória, o Aláfia contou com uma vasta diversidade de produtores culturais, artistas, comunicadores, técnicos, brincantes da cultura popular e demais fazedores de cultura engajados em fazer acontecer, e com o passar dos anos, algumas figuras goianenses desse meio se tornaram efetivamente ligadas ao nome Aláfia, sendo logo associadas ao evento, devido a sua grande colaboração para que ele funcionasse, mesmo que, muitas vezes, sob circunstâncias nada favoráveis.

Você pode conferir no link abaixo a nossa matéria sobre o Aláfia, desde sua concepção até seus desdobramentos e sua importância na luta antirracista.

Por exemplo, Mônica Maria, artista, cantora e produtora cultural e Zinho Aláfia, artista, musicista e produtor cultural, que são as pessoas mais comumente lembradas quando se fala do Aláfia, e os dois não poderiam estar mais ansiosos por essa edição especial. Os primórdios do Aláfia tem conexão com o início das suas carreiras enquanto produtores culturais e é possível perceber onde chegaram, hoje em dia, como profissionais gabaritados. E, segundo Mônica, essa experiência foi uma faculdade para eles, com o apoio importantíssimo da ONG Djumbay e pessoas ligadas a ela como Jorge Riva, Antônio, Josélia, Gilson Ferreira, dentre outros que tiveram sua importância.

“Não iríamos trazer o Aláfia de volta se fosse no mesmo modelo de antes. Naquela época, trabalhávamos na produção e não recebíamos nada, nem as bandas, que vinham pela camaradagem. Mas, pela falta de experiência e pela sede de ter esse movimento na cidade, fez com que agíssemos dessa maneira.”

E ela continua falando sobre o processo de realizar essa edição comemorativa do Aláfia:

“Eu sempre tive essa vontade de retomar o Aláfia e falava com Zinho a respeito, para mandarmos o projeto para o Funcultura. Agora, fomos aprovados pela Lei Paulo Gustavo, e a intenção é fazer que o evento, futuramente, aconteça ao menos uma vez ao ano. Iremos ter essa comemoração dos 21 anos, mas acredito que com o fundo de cultura, poderemos dar continuidade como era antes. Mesmo depois de tanto tempo, as pessoas nunca deixaram de perguntar sobre o Aláfia, quando iria ter ou se voltaria, então, eu fico muito feliz de trazer o Aláfia de volta, assim como a equipe, que hoje se resume a Zinho, Hevelyne (produtora cultural goianense) e eu, que tivemos o interesse, a iniciativa e formulamos esse projeto. Agora, os alafianos poderão matar a saudade”

Zinho complementa:

“Desde que o Aláfia terminou em meados de 2009, Mônica e eu vivemos escutando as pessoas da cidade perguntando quando o evento voltaria. No ano passado, ela, Hevelyne e eu modelamos um projeto de comemoração de 20 anos do Aláfia para edital da Lei Paulo Gustavo e fomos contemplados. Mesmo após 15 anos desde a última edição, o Aláfia continua fazendo parte do imaginário da população goianense, e acredito que isso se refletirá no público que participará nos dois dias de evento.

Apesar das expetativas para essa edição comemorativa depois de 15 anos desde o último evento, os idealizadores já estão pensando no pós e buscando formas e alternativas para tornar o Aláfia um evento constante dentro da programação cultural de Goiana, considerando para além do entretenimento, a importância do Aláfia, como manifestação da identidade negra e popular da cidade. Então, o que poderia ser feito para firmar o evento na agenda cultural?

Mônica reflete sobre essa questão:

“Eu estou com esperança no fundo de cultura para que possamos manter o Aláfia todo domingo do mês, sem precisar bater à porta da prefeitura. Sabemos que contar com gestão e patrocínio é muito complicado e incerto. Acredito que no futuro, com o incentivo do fundo de cultura, poderemos elaborar um projeto para manter a constância.”

Zinho conclui:

“Após o fim do repasse da ONG holandesa Catolic Realise Service, as atividades de celebrações culturais foram encerradas. Atualmente, estamos na luta para implementação do Sistema de Cultura de Goiana. Com isso, o Aláfia poderá participar de editais que possam trazê-lo com toda força que lhe é característica. Vivemos em um retrocesso enquanto modelo de sociedade, onde são enfatizados as intolerâncias para com as minorias, portanto, a volta do Aláfia pelo menos por dois dias, servirá como um movimento de resistência da Cultura Negra e Popular.”

PROGRAMAÇÃO:

SEMINÁRIO: Aláfia – 20 Anos de Movimento Cultural da Identidade Negra e Popular de Goiana.

Objetivo: levar as discussões entre as entidades culturais e a sociedade civil na Zona da Mata Norte à esfera estadual, realizando a manutenção de movimentos culturais no interior.

Público alvo: realizadores e provocadores culturais independentes da Zona da Mata.

Data: 12/10/2024 (sábado)

Horário: 09h30 até as 11 h

Local: Ateliê Valcira Santiago

Gratuito.

OFICINA: Oficina de pandeiro para mulheres.

Objetivo: incentivar e formar mulheres a tocarem pandeiro.

Público alvo: mulheres cis e trans.

Data: 12/10/2024

Horário: 14 h às 17 h

Local: Ateliê Valcira Santiago

Gratuito.

SHOWS:

Sábado 12/10/2024

Horário: A partir das 18h

Local: Rua do Rosário (Em frente a Igreja do Rosário dos Pretos)

Atrações:

Pretinhas do Congo

7 Flechas

RVA – Rapaziada Voz Ativa

Afoxé Oyá Alaxé

Mônica Maria

Domingo 13/10/2024

Horário: A partir das 18h

Local: Rua do Rosário (Em frente a Igreja do Rosário dos Pretos)

Atrações:

Cavalo Marinho Maiyê

Coco de Pareia

Poli

Maciel Salu

Realização: 2P Produções, Azulyne Produções

Incentivo: Secretaria de Cultura do Governo do Estado de Pernambuco, Lei Paulo Gustavo, Ministério da Cultura e Governo Federal.

Apoio: Prefeitura Municipal de Goiana

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