Em um tempo onde a Internet estava longe de ser uma realidade com suas plataformas de streaming, as fitas K7 eram um meio de estar antenado com a música produzida em outros lugares do país e do mundo.
Goiana, cidade interiorana localizada entre João Pessoa e Recife, capitais da Paraíba e Pernambuco respectivamente, não ficou alienada nesse processo de intercâmbio cultural na década de 80.
Sendo assim, o Rock, o estilo musical mais conhecido e variado do mundo – em alta naquele período – conseguiu conquistar corações e mentes de jovens goianenses através do seu gênero mais pesado: o Heavy Metal.
Como uma típica cidade de interior na época, Goiana apresenta um
processo de atraso cultural que permite que a música venha primeiro do que a
estética, ou seja: curtiam o som, mas não faziam ideia de que os músicos eram
caras cabeludos com cara de mal, vestidos com jaquetas de couro, jeans rasgados
e sapatos surrados.
Esse conhecimento só veio através da popularidade do primeiro Rock in Rio em
1985, quando, por meio de revistas especializadas em música pesada como a Metal
Head, os adolescentes podiam conhecer melhor as bandas que curtiram, além de
apenas ouvi-las.
É natural que a paixão pelo Rock/Metal acenda um fogo em seus amantes que os faz não apenas consumir a música, mas querer tocá-la e também fazer parte ativamente de tal cenário cultural, seja montando bandas, produzindo eventos, ou simplesmente comparecendo a shows. Começaram a surgir bandas de metal goianense, como as pioneiras Infected Voice e Mega Fobia, e os eventos começaram a acontecer na base da filosofia “faça você mesmo”, mas vez ou outra contando com um incentivo político interessado e sem receio de ajudar uma manifestação artística que fugisse do padrão considerado normal para a sociedade.
Em 1997 a banda Datiloscopia, por exemplo, chegou a figurar na coletânea “Japomim” – projeto realizado pelo então vereador Gildeon Anselmo – que registrou o melhor da cena musical da época, mesclando vários gêneros e estilos, quando iniciativas multiculturais não eram tão comuns. Entretanto, foi no começo dos anos 2000 que Goiana passou a ser reconhecida na Zona da Mata Norte como um caldeirão de bandas de Metal e Rock com influências diretas deste gênero, tendo como referência as bandas Processo Indefinido (que depois veio a se chamar Processed), Zefa Deão e outras.
Com a Internet ficando cada vez mais acessível, a geração que viveu a adolescência nos anos 80, agora podia desfrutar melhor do gosto pela música pesada, se conectar com novas tendências, além de fazer contato com outras bandas da região para trocar conhecimento, instigar e ampliar o cenário Metal através de eventos, eventos que inclusive se tornaram memoráveis em Goiana, tanto devido a exaltação do público de “metaleiros” e suas excentricidades, como a reação dos goianenses conservadores que ficaram abismados com toda a movimentação de pessoas fora do habitual.
Mas, independente do preconceito e dos olhares estranhos dos nativos, o pessoal envolvido com Metal/Rock em Goiana, desde os primórdios nos anos 80, estavam fazendo o que qualquer amante e entusiasta de uma arte faz e continuará fazendo: distribuir e cultivar a paixão pela música, que no Heavy Metal é historicamente mais intensa e pode parecer louca e esquisita para o senso comum, mas cria um laço de união e fraternidade universal.
Escrito por Guilherme Souza.
Confira abaixo a entrevista em vídeo que fizemos com os metaleiros de Goiana da década de 80.
* In Memorian Luiz Duarte (Luizinho).
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