Hoje (13), no dia do rock, conheça um pouco da história desse ritmo musical em Goiana e de sua influência cultural na cidade
Por Guilherme Souza
Esse tal de Rock N’ Roll. A música mais popular e inventiva do mundo. Não há quem não goste de pelo menos uma música perdida desse estilo musical. Mas também, com tantas variantes e para todos os gostos, fica difícil não gostar. Legião Urbana e Sepultura, por exemplo. Ambas são bandas brasileiras de Rock, mas totalmente diferentes uma da outra. É possível que você saiba cantarolar umas três músicas da Legião pelo menos, mas não conheça nenhuma do Sepultura. Porém, o Sepultura é reconhecido nos quatro cantos do mundo como uma das bandas mais respeitadas do “Rock pesado” ou “paulêra”, como seus pais costumam chamar.
Quer fazer um teste? Coloque “Highway To Hell” do AC/DC para rolar bem alto. Quando a bateria entrar, instantaneamente você vai começar a bater o pé no chão no ritmo e balançar a cabeça como se estivesse concordando que é uma ótima música. É possível que você faça uma cara de mal, comece a batucar e até mesmo arrisque fingir que toca guitarra. Agora lembre-se, só vale se for alto.
Antes de falarmos sobre a trajetória do Rock em Goiana, vamos nos situar no tempo. No dia 13 de julho de 1985 foi realizado simultaneamente em Londres e nos Estados Unidos, o megaevento Live Aid, organizado pelo cantor Bob Geldof, e tinha como objetivo principal arrecadar fundos para acabar com a fome na Etiópia. Phill Collins, um super astro Pop na época, se empolgou tanto durante sua apresentação que declarou que este dia deveria ser considerado o “dia mundial do Rock.” Contudo, foi apenas em 1990 que duas rádios paulistanas de Rock, a 89 FM e a 97 FM passaram a mencionar este acontecimento de Collins em sua programação. Os ouvintes e a mídia gostaram da ideia e até hoje ela tem essa classificação de ser mundial, mas só é comemorada aqui, no Brasil. No resto do mundo, algumas rádios celebram o dia 9 de julho, quando ocorreu a estreia do programa American Bandstand que popularizou o Rock nos EUA. Outra opção, é o 5 de julho, quando o ícone Elvis Presley em 1954, gravou seu primeiro hit “That´s allright”. E ainda há o 11 de fevereiro, quando, em 1964, os Beatles se apresentaram pela primeira vez.
Foi no mesmo ano de 1985 que ocorreu a primeira edição do Rock in Rio e acabou por tornar o Rock popular no país como nunca havia sido antes, embora já houvessem grandes bandas de renome como Os Mutantes, só para citar uma.
Goiana, como uma cidade típica do interior de Pernambuco, só começou a ter acesso a material de Rock através de revistas e discos que vinham das capitais Recife e João Pessoa, por intermédio de um ou outro aventureiro que viajava para conseguir, quando ainda era inimaginável ter Internet dentro das residências. Você pode inclusive conhecer mais dessa e outras histórias na entrevista que fizemos com um grupo de amigos metaleiros de Goiana, que relatam suas experiências e excitações com o Heavy Metal na década de 80:
Com a chegada dos anos 2000, o acesso a Internet começava a se popularizar e várias LAN Houses surgiam pela cidade. Agora era possível ficar por dentro das novidades do mundo do Rock, baixar discos, assistir shows e conhecer outras pessoas ao redor do mundo com o mesmo gosto pela música pesada. Consequentemente, bandas começaram a se formar na cidade, a ponto de existir um cenário organizado com eventos que marcaram a cultura alternativa de Goiana. E como o Rock sempre teve a filosofia do “faça você mesmo”, os eventos iniciais eram feitos de maneira precária, mas com muita vontade de fazer acontecer uma movimentação cultural que fugisse do entretenimento comum.
O Mercadinho Imperial, localizado na Rua Direita, se tornou o grande marco dessa geração roqueira de Goiana. GotaSerena, Processo Indefinido, Zefa Deão, Vírus, Grito de Alerta, Flores Mortas, foram algumas das bandas que marcaram presença no “Imperial Rock”, como ficou conhecido no auge, além de outras bandas da Mata Norte, Olinda, Recife e região. É válido lembrar que, apesar das bandas citadas não serem profissionais na técnica, todas tinham sua identidade e som característicos, mostrando o conhecimento da variedade artística que o Rock dispõe, então não era incomum se na mesma noite uma banda de Punk Rock dividisse espaço com outra de Rock Psicodélico. O próprio ambiente sujo e desgastado do Imperial evocava um sentimento puramente rebelde, que se expressava também nas roupas e atitudes daqueles que iam para os shows e acabavam por chocar a vizinhança conservadora
O Aláfia, Manifestação Cultural de Identidade Negra e Popular de Goiana, também foi responsável pela circuito das bandas de Rock na cidade, devido aos seus eventos darem visibilidade multicultural para o que estava sendo criado no momento, gerando uma rica efervescência artística. Outro lugar importante para o movimento do Rock foi a Praça João Pessoa, mais conhecida pelos seus frequentadores como 13 de Maio ou apenas “a 13”. Foi no coreto desta praça que muitos eventos aconteceram, uma vez que o Imperial já não abrigava mais shows e não existia outro local adequado para realiza-los. Então, nada melhor do que levar o Rock para a rua, para ser visto e ouvido por quem quisesse ouvir. A partir de meados de 2010, uma nova geração começou a tomar forma e se tornar mais organizada na produção de eventos e no intercâmbio com outras bandas da região, enriquecendo o movimento para além de Goiana. Prisma Orbe (que já estava na ativa a mais tempo), One Black Two White, The Blue Tomato e Vênus em Fúria foram as responsáveis por manter o Rock em alta na cidade. Com o passar do tempo, apenas a Prisma Orbe se mantem na ativa hoje, tendo inclusive completado a maioridade recentemente.
As outras foram se desgastando por vários motivos que envolvem a cena alternativa e independente, dentre eles, a falta de investimento das instituições que deveriam prezar pela produção cultural da região, criando espaços adequados para as apresentações; a baixa motivação causada pelas dificuldades de ser um músico numa cidade que nunca prezou por seus artistas; dentre outras preocupações impostas pelo cotidiano que acabam por afastar o músico da vida musical e focar em outras atividades que sejam de fato, rentáveis. Esses dentre vários outros motivos tornam o músico goianense um indivíduo frustrado, tendo que colocar suas ideias e inspirações numa caixa de hobbies e não coloca-las em prática como gostaria.
Desde 1987 com a criação de uma das primeiras bandas de Rock pesado da cidade, a Infected Voice, até 1997, quando a Datiloscopia foi a primeira banda de Rock da cidade a gravar em estúdio para a coletânea Japomim; os eventos alternativos que aconteceram nos coretos das praças pela força de vontade dos entusiastas da música pesada; No Imperial Rock; as festas de Halloween em locais inusitados e toda a preocupação em criar um clima soturno; Goiana é totalmente cheia de memórias embaladas por essa música que emociona, extravasa os sentimentos, cria laços de amizade que se sustentam por toda a vida, aquela música que mantém o ímpeto da rebeldia adolescente, mas também é capaz de amadurecer e conviver em um espaço multicultural, absorvendo influência de outros estilos e sendo referência inesgotável para tantos outros
Por mais que o Rock não esteja no seu auge comercial/cultural e isso se reflita em Goiana, uma vez que praticamente não existem bandas atuando no cenário neste momento, o fogo continua queimando no interior de cada um e cada uma que atende o chamado instigante dessa música que arrepia até a alma e segue atemporal: o bom, e velho, e novo Rock.
Vocês podem conferir a nossa coletânea do Rock de Goiana no nosso canal do YouTube, com apenas músicas autorais das bandas nos anos 90, 2000 e 2010. Tem de tudo, desde o Rock com elementos regionais ao mais puro Heavy Metal, passando pelo Punk Hardcore, Grunge, Psicodélico e outras variedades.
Em tempo: fizemos um programa especial dedicado ao dia do Rock que irá ser exibido no próximo sábado, 17, as 19h, na Rádio Barba Online, nossa mais nova parceria cultural. Então fica ligado e fica ligada para não perder esse programa de peso e cheio de curiosidades da cena goianense, com apresentação de Guilherme Souza, comentários de Elthon Taurino e uma playlist recheada de clássicos do Rock de Goiana.
ESCUTE A RÁDIO BARBA ONLINE:
https://www.barbadiscos.com.br/
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