Do fortalecimento cultural: o apoio mútuo entre canais de literatura e música de Goiana

Se a poesia é parceira da música, então conheça o nosso parceiro CLAG (Clube de Leitura e Artes de Goiana -PE) e sua produção artística que visa divulgar e fomentar a literatura goianense de várias maneiras.

Por Guilherme Souza

Literatura e música são ambas vertentes artísticas que estão intrinsicamente conectadas. Uma é inspiração para a outra e possuem o poder de contar histórias que fortalecem a ligação de pertencimento entre uma pessoa e o lugar que habita. As vivências do cotidiano podem se transformar em obras artísticas para traduzir os desejos e medos de uma sociedade. E neste sentido, Goiana é como um caldeirão cultural em efervescência, borbulhando criatividade e gerando autenticidade.

É deveras importante que exista uma maneira de cadenciar esse fluxo, dando um senso de direção organizada, detalhada, afim de se montar um acervo destes trabalhos artísticos que servem como documentos de identificação cultural goianense. Na área musical, o Movimento MATA Goiana vem atuando há mais de três anos com a finalidade de resgatar e fomentar a música autoral, servindo como veículo de comunicação da mesma. E na área literária, esse importante trabalho de apoio e divulgação fica a cargo do blog Literanis, que tem como lema “Um Blog para Apoiar a Literatura de Goiana-PE”.

LITERANIS – Blog criado para divulgar a poesia goianense – Imagem: Internet

No Literanis, é possível encontrar entrevistas com autores de Goiana e suas publicações literárias inéditas. É uma iniciativa que visa incentivar e reconhecer o trabalhos dos literatos da cidade para que seja possível a existência de um mercado literário goianense, em que os habitantes possam comprar literatura da própria terra e a consumam com a mesma atenção que fazem com a literatura de fora do ambiente goianense.

O responsável pela iniciativa do blog é Bill, pseudônimo de Severino Ramos Barbosa de Lima. Ele é poeta, contista e roteirista de histórias em quadrinhos de Goiana, além de bancário. É ex-membro do Terça com Poesia e atualmente é participante do CLAG – Clube de Literatura e Artes de Goiana e do Amigos da Poesia. É coautor, junto com o poeta laureado de Goiana e contista Prof. J.A. Silva, do livro Banquete de Contos. Pelo CLAG, já participou das coletâneas Café & Poesia e Natal com Poesia.
Os membros participantes do CLAG são: Alexandre Augusto, Bill, Ceça Albertim, Edvaldo Cordelista, Elias Batista, Elthon Taurino, Ismael Gaião, Jonas Santos, Prof. J.A. Silva, Laura Sivini, Mário Serrano, Nildo Violon, Ricardo Jorge, Rosimery Viégas e Vitória Regina.

Periodicamente o CLAG (Clube de Leitura e Artes de Goiana-PE) vem criando várias iniciativas artísticas na área da literatura e musical da cidade.

Todos esses clubes, coletivos e movimentos citados, são responsáveis por ações culturais poéticas na cidade de Goiana e região, mostrando a força e organização da nossa literatura por meio de eventos e sarais, que por causa da pandemia, tiveram de ser temporariamente suspensos. No entanto, devido a quarentena, as redes sociais (Instagram, Youtube, Twitter e Facebook) se tornaram importantes veículos de comunicação cultural para a divulgação de trabalhos artísticos. Mas, e o blog? O site que tanto pode ser usado para fins profissionais como um diário online e teve sua ascensão na primeira década dos anos 2000, hoje não tem o mesmo impacto em um mundo cada vez mais corrido onde as pessoas preferem vídeos do que textos, embora, claro, ainda existam os apaixonados pela leitura.

E o poeta citado Bill, explica detalhadamente como surgiu o conceito e ideia de criação do blog Literanis e porque a preferência por esse veículo de informação:

Começou a partir da ideia de que a literatura em Goiana precisa de mais apoio e divulgação. Claro, eu poderia ter trabalhado numa plataforma das mídias sociais, algo no Instagram ou Facebook, por exemplo, mas sinto que as pessoas tendem a subestimar a eficácia que os blogs já tiveram e que ainda podem ter. Por isso optei por este formato. Além disso, tive a sorte de estar aqui quando a Internet começou seu “boom” no Brasil, quando ainda usávamos coisas que muitos da geração atual talvez nem saibam que existiram, como bate-papos do BOL, ICQ, Orkut, Mirc, Geocities, etc, e os blogs estão inseridos nesse contexto. É um pouco de saudosismo tecnológico? Sim, mas isso não é de todo ruim.

Bem, o que me referi acima tem a ver com um dos aspectos do Literanis, o de divulgar a Literatura de Goiana, mas há um outro, esse inspirado em Hugo Gernsback. Sei que esse nome não vai soar familiar para a maioria das pessoas, mas ele é de uma importância ímpar para a formação do que hoje chamamos de Cultura Pop. Hugo Gernsback nasceu em Luxemburgo, um país europeu, e ele era um inventor que emigrou para os Estados Unidos em 1908. Lá acabou fundando uma revista chamada Radio News que, com o tempo, evoluiu para se tornar a Amazing Stories. Para os fãs de Ficção-Científica (FC), eu, por exemplo, esse nome é lendário: foi simplesmente a primeira revista a publicar exclusivamente Ficção-Científica dando a ela destaque, e não de forma secundária, como já existia, e foi a pioneira em pagar aos autores que participavam dela.

Gernsback criou o mercado de FC, significando que ele implantou, nos EUA, uma indústria autossustentável pela qual autores se desenvolveram e se tornaram conhecidos. Não por acaso, uma das mais importantes premiações da FC tem o nome dele. A relevância disso? Bem, é provável que jamais teríamos Star Wars ou Star Trek, e tantos outros produtos da mídia que, de um modo ou de outroo são calcados na FC, se Gernsback não tivesse criado o mercado para isso (não vou entrar aqui na polêmica de décadas sobre se Star Wars é ou não FC…). O fato é que sempre admirei Gernsback e ele é uma grande inspiração para o Blog Literanis. Mas, ora, não há um mercado literário em Goiana, ou seja, nenhum goianense ganha dinheiro produzindo literatura. Assim, estou tentando, com minha pequena contribuição, ajudar a mudar isso e, talvez, plantar a semente para que esse mercado literário goianense, um dia, possa existir.

Autores goianenses são entrevistados pelo Blog e/ou publicam nele obras literárias inéditas, escritas diretamente para o Literanis. Estes últimos, que publicam, recebem um valor simbólico em dinheiro. Por simbólico significa que é pouco, mas é uma forma de incentivar e reconhecer o trabalho dos literatos goianenses e, como falei, trabalhar pelo dia em que realmente haja um mercado literário goianense, em que nossos habitantes comprem literatura de nossa terra e a consumam com a mesma atenção que o fazem com a literatura de fora do ambiente goianense. Claro que os direitos autorais dos textos são dos autores.

O Literanis é uma equipe de um homem só, ou seja, faço todo o trabalho para mantê-lo. Do ponto de vista de participantes literários, são muitos, ou seja, há muita gente produzindo literatura em Goiana, apenas não são tão conhecidos como deveriam, e o Literanis pretende dar uma chance para que eles possam serem vistos pelo público. Como menção honrosa, eu aproveito para citar meu sobrinho, Paulo Eduardo, que publicou o conto “As Bruxas do Squirt”, neste blog: ele me ajudou com a escolha do nome, afinal praticamente todos os bons nomes que têm o radical “liter” já estavam sendo usados por alguém.”

Bill, poeta goianense criador do blog Literanis e várias iniciativas culturais
Imagem: Elthon Taurino / MATA Goiana

Você pode conferir as postagens do blog Literanis aqui: https://literanis.blogspot.com/

Mesmo que revistas e jornais ainda estejam em circulação, a logística que envolve tal produção e seus custos têm se tornado inviáveis para os escritores independentes. Entretanto, devido as facilidades que a tecnologia vem promovendo através da internet, o blog continua sendo uma escolha acertada. É possível que até os livros em seu formato físico percam espaço considerável nas prateleiras em um futuro próximo, devido a ferramentas como o Kindle, leitor de livros digitais. O fato é que o hábito da leitura precisa ser incentivado para que a literatura ganhe mais e mais adeptos.

Em Goiana, é possível apontar uma espécie de “era de ouro da literatura goianense” como afirma Bill, a partir de 2010 com o Movimento Silêncio Interrompido (fundado em 2006), importante coletivo poético formado por jovens da Zona da Mata Norte de Pernambuco. O coletivo desenvolveu produções como cartazes de poesia, colagens, livretos poéticos, intervenções artísticas em locais públicos estratégicos e chegou a lançar o livro “Silêncio Interrompido – Goiana revisitada” com diversos artistas da região. Além disso tudo, ainda existe um blog muito bem abastecido, afinal de contas o mesmo se encontrava em seu auge midiático. Mesmo que o Movimento não esteja mais ativo, você ainda pode conferir o rico material produzido através deste link:

Blog Silêncio Interrompido
http://silencio-interrompido.blogspot.com/

A seguir, Bill fala sobre a fase de inércia da literatura goianense pós-Silêncio Interrompido e seu “novo despertar”:

“Há alguns anos tivemos o florescimento de um tipo de ‘Era de Ouro’ da Literatura Goianense, mais especificamente da Poesia jovem, às vezes chamada de marginal ou alternativa, pelas mãos de Phillipe Wollney, um dos maiores incentivadores da cultura Goianense, em todos os tempos. Foi uma época de iniciativas como o Silêncio Interrompido. Após isso, a literatura goianense caiu numa fase de adormecimento: ainda havia autores escrevendo, mas praticamente não havia publicações, nem incentivadores como Wollney. Isso fez nossa literatura regredir em anos, porque passamos de um período de efervescência literária para uma época de ‘coma cultural’. Chegamos a um ponto em que ainda havia literatura goianense sendo produzida, porém não era mais disponibilizada para o grande público. Predominava, portanto, os “escritores de gaveta”, aqueles que escrevem apenas para guardar, sem esperanças de ver seus trabalhos publicados. Era uma época de poeira e teias de aranha, em que reinava o ‘silêncio do esquecimento’.

Nesse período, tivemos, pelo menos, uma resistência heroica: o Professor J.A. Silva (José Antônio da Silva), poeta e prosador que ficou conhecido, até mesmo folcloricamente, por produzir seus livros em casa mesmo, publicá-los por conta própria e lançar, por suas próprias forças, pelo menos dez livros por ano! Essa resistência ele mantém até hoje, mas o cenário para a literatura goianense mudou muito desde 2019. Justamente em 2019, surgiu o Grupo Terça com Poesia (TCP), que começou apenas como um grupo de amigos que se reuniam para declamar poesias na biblioteca do SESC LER, nesta cidade. Com o passar dos meses, o TCP cresceu em número de membros e passou a abraçar outras artes que não fossem apenas a Poesia. O fato é que o TCP acabou servindo como a fagulha para um ‘novo despertar’ da Poesia goianense, ou, aproveitando a analogia com a História das histórias em quadrinho, o começo de uma ‘Era de Prata’ (nessa metáfora, a ‘Era de Ouro’ teria sido a época de Phillipe Wolney). Seu principal impacto foi colocar uma nova luz sobre mais de duas dezenas de poetas que já haviam se resignado a escreverem e guardarem seus poemas em gavetas e o TCP fez isso ao conceder espaço para que esses poetas pudessem declamar suas poesias, ao mesmo tempo em que interagiam com outros apreciadores dessa arte, o que acabou sendo enriquecedor para as partes envolvidas.

Porém, um ‘motivo de força maior’ viria a desabar sobre esse cenário e simplesmente mudar tudo: a pandemia Global de COVID-19. De repente, os poetas não podiam mais se reunir para declamar e sem esses encontros presenciais havia uma possibilidade sombria de que os membros do TCP se resignassem com a pandemia e que todos eles desistissem de continuar lutando pela arte poética. Felizmente, eles adotaram o modelo virtual e o WHATSAPP acabou se tornando o novo meio-ambiente em que os poetas trabalhariam. Em meio a essa sobrevivência, eles progrediram: realizaram oficinas virtuais (cujo professor foi Ismael Gaião, de Condado, uma lenda nos meios cordelísticos nordestinos), publicaram coletâneas de Poesia, constituíram o primeiro Poeta Laureado de Goiana (justamente o Prof. J.A. Silva, que, na verdade, é também o primeiro desse tipo em um país de Língua Portuguesa). Todavia, o impacto do TCP na artes de Goiana acabou abrindo uma vertente inesperada: a partir dele já surgiram dois outros grupos artísticos: o Amigos da Poesia (organizado pelo referido Ismael Gaião, que deixou o TCP) e o Clube de Leitura e Artes de Goiana – CLAG (do qual eu, que também deixei o TCP, e Gaião participamos). Então, se me permitem continuar com a analogia dos quadrinhos, chegamos provavelmente a ‘Era de Bronze’ da Poesia e das Artes em Goiana. 

Conheça todo o conteúdo criado pelo CLAG no seu canal do YouTube

Apesar da efervescência cultural que Goiana produz atualmente, é importante ressaltar que toda essa movimentação do cenário literário goianense acontece pela vontade de fazer acontecer dos poetas, poetisas e apreciadores e entusiastas em geral da arte poética goianense. As instituições governamentais da nossa cidade não são necessariamente conhecidas por tratar seus artistas com o devido respeito e reconhecimento; são estes que, através de organizações coletivas conseguem chamar – com muito esforço – a atenção para os seus trabalhos. No entanto, para se garantir uma visibilidade que possa gerar uma remuneração adequada a essa classe, se faz urgente, antes de tudo, a construção de consciência de classe.

É preciso enxergar a realidade pelos próprios olhos e lutar por melhorias concretas através de políticas públicas, não apenas buscar um apoio que não compreende de fato, as demandas culturais. Outra problemática é o próprio ego dos fazedores de cultura que entram em choque e não chegam em um consenso. Goiana já viu diversos coletivos e movimentos de boas propostas nascerem e morrerem na praia por causa disso. A falta de incentivo também colabora para a não conclusão de projetos culturais.

Bill explica com propriedade como se pode atingir o objetivo de se conquistar uma digna independência cultural:

“Há questões pendentes que os atuais grupos e os possíveis vindouros precisam resolver: quando se reúne um grupo de artistas em Goiana para lutar pela arte, inicia-se uma efervescência de contradições internas que são muitos perigosas para a sobrevivência de qualquer organização. Resolver e superar essas contradições é essencial para que esta “Era de Bronze” não sucumba e nem retornemos à época do pó e do esquecimento. Para isso, precisamos que as lideranças artísticas locais amadureçam e profissionalizem-se ao mesmo tempo que adquiram um maior idealismo e boa vontade, pois precisamos disso: a frente desses movimentos precisamos de idealistas/sonhadores que sejam também grandes fazedores, que possam enxergar além de seu umbigo e ego e estejam dispostos a sacrificarem seu tempo, seu sossego e seus esforços para que seus grupos cresçam. Precisamos de lideranças e artistas que amem a arte e estejam dispostos a encarar todas as dificuldades inerentes a fazer arte no Brasil e que estejam prontos também para enfrentarem-nas com as únicas e melhores armas que possuem: boas ideias, criatividade, coragem e boa vontade para trabalhar.

Precisamos igualmente que certos pudores bobos sejam superados: os artistas precisam reivindicar dos poderes públicos no sentido de buscar melhorias para a categoria, não apenas na forma de apoio e patrocínio, mas igualmente de mudanças na legislação que possam beneficiar a arte no município. Isso significa agir politicamente. Precisamos ainda que os poetas entendam que eles podem sim serem remunerados, pelos poderes públicos ou privados, para realizarem sua arte. Isso significa agir financeiramente, uma ideia que já é defendida há tempos pelo genial Ismael Gaião. Em meio, a toda essa necessidade ainda há uma massa de músicos e ceramistas, categorias tecnicamente abandonadas, que necessitam de cuidados, organização e conscientização. Isso significa criar consciência de classe e atuar com base nessa consciência, de que todas as artes merecem atenção e organização.

Então, em resumo, o futuro da arte em Goiana, ou seja, a diferença entre avançarmos da “Era de Bronze” para outra melhor ou de cairmos de volta à “Época da Poeira e do Esquecimento”, repousa na capacidade de os artistas, os grupos de artistas e as lideranças desses grupos serem capazes de oferecer respostas positivas e eficazes às necessidades e desafios que citei nos parágrafos anteriores. Se vão conseguir? Só os bons deuses sabem!

LIVE MATA Goiana em parceria com o CLAG, com a participação da vereadora Ana Diamante e moradores da localidade do Engenho Diamante para uma apresentação literária.

É certo que possuímos as ferramentas que podem nos libertar da burocracia. Em tempos onde somos governados por um sistema conservador que tem os movimentos culturais como inimigos, saber usar essas ferramentas é um dever artístico. A palavra “resistir” não deve ser romantizada com um sentimento de derrotismo, mas encarada como palavra de ordem que demanda organização, pois só com muita resistência conseguiremos batalhar neste campo político nefasto que faz de tudo para prejudicar e desacreditar o rentável setor cultural.

Sobre as perspectivas para o blog Literanis, Bill revela sucintamente e finaliza:

Continuar com entrevistas e publicações de textos de autores e, talvez, mudar o foco do blog de apenas literatura goianense para cultura e arte goianense em geral. Com o tempo, podemos tentar outros formatos no Literanis para que ele evolua. Por exemplo, eu adoraria usar um Podcast.

Aproveito, como goianense e artista, para agradecer a você Elthon Taurino pelo trabalho de divulgação e apoio que tem prestado a arte de nosso município. Você nem imagina o a extensão do bem que está realizando. Em nome da Arte goianense, obrigado. Também agradeço pela oportunidade desta entrevista. Foi realmente uma honra participar dela.”

Em tempo:

 – O Movimento MATA Goiana foi convidado para participar do CLAG – Clube de Leitura e Artes de Goiana e assim o cenário artístico goianense pode unir forças para melhor atuar culturalmente. Um dos resultados dessa união foi o projeto de livesPoesia Itinerante – Levando arte para toda Goiana”, com o objetivo de descentralizar as ações culturais feitas no extenso território goianense. Você pode conferir através desse link:

 – Elthon Taurino, diretor geral do Movimento MATA Goiana, recebeu do CLAG a concessão do título de Mestre Fomentador, Divulgador e Apoiador da Cultura Goianense, pela sua obra, postura e feitos pela Arte de Goiana – PE.

Certificado do CLAG concedido ao MATA Goiana na pessoa de Elthon Taurino pelo serviço de divulgação cultural.
Prof. J.A. Silva, poeta goianense laureado, entregando o certificado a Elthon Taurino
  1. Parabens poetamigo Elthon Taurino, belo trabalho.

    Comentário por Mário Serrano em maio 21, 2021 as 10:34 pm