Banda de reggae autoral da cidade está prestes a fazer o seu primeiro show e já lançou três músicas
Deb e Jah Band / Foto: Tayná Nunes
Por Guilherme Souza
Quando se fala de Reggae, gênero musical criado na Jamaica no final dos anos 60, a primeira referência inevitável que nos vem à cabeça é da figura de Bob Marley, com seus dreadlocks e seu sorriso espirituoso. E não é para menos: Bob Marley é considerado o primeiro artista do terceiro mundo a ser reconhecido a um nível global, e até hoje, mais de quarenta anos após a sua morte, seu legado e sua influência na música permanecem e além dela, sendo uma figura importante para a religião judaíco-cristã afrocêntrica Rastafari, no que diz respeito ao fato dele ter sido um artista de alcance mundial a difundir suas crenças.
Robert Nesta Marley, mais conhecido como Bob Marley / Foto: divulgação
Edson Gomes / Foto: divulgação
Existem outros nomes de grande relevância para o Reggae, como Peter Tosh, Bunny Wailer, Jimmy Cliffy e Edson Gomes, só para citar alguns dentre tantos que deixaram sua marca, contudo, as mulheres não despontaram tanto quanto os homens; mas, de forma alguma isso significa que elas não apresentaram trabalhos expressivos, desde antes da concepção do Reggae pelos estilos musicais que o antecederam como o Ska e o Rocksteady e suas outras vertentes até os dias de hoje. É que assim como outros estilos musicais, o Reggae era executado quase que majoritariamente por homens, e as mulheres não tinham a devida visibilidade. Podemos citar I Threes, o trio de vocal de apoio de Bob Marley e The Wailers da qual faziam parte Rita Marley, Marcia Griffiths e Judy Mowatt – todas seguiram carreira solo de destaque. Podemos citar também a Hortense Ellis, Norma Frazer, a dupla Althea e Donna, Dezarie, Hollie Cook, a Dama do Reggae Maranhense Célia Sampaio, dentre inúmeras outras, gringas e brasileiras, das antigas que merecem ser descobertas, tal qual as novas que seguem fazendo sua música autoral e afirmando a representatividade feminina.
The I – Threes / Foto: divulgação
Célia Sampaio / Foto: divulgação
É nesse contexto de uma mulher tomando a frente de uma banda de Reggae que podemos falar da Deb e Jah Band, grupo de música autoral da cidade de Goiana, Pernambuco. Prestes a fazer seu primeiro show no dia 25 de outubro, às 18h, no pátio da Misericórdia, o grupo surgiu no final de 2023 e agora vem a público mostrar o seu trabalho. Já tendo lançado três músicas no Youtube, “Mar Lia”, “La Lua” e “Todas as coisas do amor” mostram que a banda está bem entrosada e pronta para sair fazendo apresentações. Embora o Reggae seja o ritmo predominantemente executado, a Deb e Jah Band são influenciadas por diversas referências musicais, resultando em um som alternativo que mistura as raízes do Reggae jamaicano com elementos abrasileirados. Os temas das músicas são característicos do Reggae, trazendo uma mensagem de paz, falando de amor e fazendo críticas sociais para causar uma reflexão no indivíduo, tudo de forma leve e descontraída, convidando os ouvintes para perceber a vida de uma forma mais tranquila. A banda é composta por Débora Monteiro, vocalista e compositora; Well Richard, baixista e arranjador; Tiago Santana, guitarrista, violonista e arranjador; Nino Balla, bateria; João Vitor, tecladista; Isaías Neto, saxofonista e arranjador.
Deb e Jah Band / Foto: Tayná Nunes
A banda foi idealizada por Well Richard, músico autodidata que começou a estudar regência aos 13 anos de idade, já participou de vários projetos na cidade e também fora dela, sendo reconhecido pelo seu trabalho. Atualmente, montou um pequeno estúdio caseiro com a intenção de fomentar a cena musical de Goiana. Os outros músicos, assim como o próprio Well Richard, já possuem uma considerável experiência musical, pois são profissionais da área, tendo inclusive passagem pela Saboeira e Curica como instrutores e regentes, ambas goianenses e as mais antigas bandas filarmônicas da América Latina. Também já ministraram aulas, são referências em suas atuações e estão sempre buscando formas de se expressar musicalmente.
Well Richard, baixo. / Foto: Tayná Nunes
Izaías Neto, saxofone. / Foto: Tayná Nunes
Já Débora Monteiro, a Deb, nasceu em 2006 e teve contato com a música desde muito cedo. Seu primeiro contato aconteceu em instituições religiosas e logo em seguida, ela foi explorar outros tipos de arte, como a poesia e o teatro, que a aproximaram ainda mais do canto e das composições. Aos 14 anos, escreveu sua primeira música sob influência da bossa nova. Foi com ela que trocamos uma ideia a respeito da Deb e Jah Band e seu envolvimento com a música.
Ela conta:“A música sempre esteve presente em minha vida desde a infância, por meio de DVDs e do rádio. No entanto, eu não tinha o desejo de ser cantora até começar a escrever. Venho de uma família de cristãos profundamente devotos, que estavam sempre em contato com músicas cristãs e gospel, mas elas não me agradavam tanto. No ensino médio, conheci um amigo que me apresentou canções de samba e rock brasileiro, e foi aí que me encantei pela música popular brasileira e quis explorá-la mais a fundo. Foi nesse período que conheci artistas como Elis Regina, Tim Maia, Cazuza, Nara Leão, Caetano Veloso, entre outros grandes nomes que me inspiram até hoje. A partir da criação da banda, tive meus primeiros contatos mais próximos com o reggae e, por interesse próprio, decidi me aprofundar nesse estilo, até me apaixonar e aceitar isso como um princípio fundamental na minha vida. Atualmente, minhas maiores referências no reggae são The Maytals, Bob Marley, Edson Gomes e Natiruts.
Débora Monteiro, vocal. / Foto: Tayná Nunes
Nino Balla, bateria. / Foto: Tayná Nunes
Ela relata como foi que se formou a Deb e Jah Band:
“Tudo ocorreu de forma muito natural. Conheci Well, que conhecia Tiago; os dois tinham anos de experiência na música e estavam conectados a vários músicos da cidade. Assim, selecionaram as pessoas que hoje fazem parte do projeto. Os envolvidos foram escolhidos com muito cuidado; até o meu encontro com Well parecia cauteloso e completamente orquestrado pelo universo. Com o nosso som, buscamos guiar as pessoas pelo caminho da felicidade e apresentar ao público o lado bom, muitas vezes desconhecido, da vida. Queremos fazê-las perceber que amanhã pode ser melhor do que hoje. Levaremos todo o amor do mundo, mas sem ignorar os problemas que ainda persistem, utilizando isso como uma forma de revolução e mostrando, assim, nosso lado crítico.”
Tiago Santana, guitarra. / Foto: Tayná Nunes
João Victor, teclado. / Foto: Tayná Nunes
A dita “música alternativa” de Goiana conta com bandas e artistas de forte expressão e das mais variadas vertentes musicais, indo desde Valfrido Santiago e seus tantos projetos de forte regionalidade, até grupos de Rap como o RVA (Rapaziada Voz Ativa). Entretanto, é notório a falta de representatividade feminina nesse meio e mesmo com nomes importantes feito Mônica Maria e Luana Tavares, ainda é pouco. Mas esse fato não é algo íntimo de Goiana e sim um reflexo de uma problemática de uma conjuntura maior: os homens ocupam mais espaços. Portanto, o surgimento de uma banda com músicos tão competentes tendo uma mulher tão jovem como vocalista e compositora com referências notáveis, é algo a ser celebrado pelos entusiastas do cenário.
Débora revela e conclui:
“Minhas referências incluem Elis Regina, Gal Costa, Maria Bethânia, Ana Caetano, Vitória Falcão, Cássia Eller, Ana Carolina, Marisa Monte, Adriana Calcanhotto, Marina Lima e tantas outras grandes vozes da música popular brasileira. Ser uma cantora de reggae é inovador, especialmente em um gênero onde a maioria dos artistas são homens. Sinto uma honra em representar o poder feminino nesse cenário, mostrando que as mulheres podem ocupar qualquer espaço e se expressar como quiserem no mundo.”
Longa vida ao mais novo grupo de Reggae de Goiana, Deb e Jah Band.
CONTATO
Instragram: @deb_jahband
YouTube: @DebJahBand
E-mail: deb.jahband@gmail.com
Telefone: (81) 99825-4289
SERVIÇO
Primeiro show da Deb e Jah Band
Evento: Brincantes da Mata Norte (Realização SESC LER – Goiana)
Quando: 25 de outubro de 2024
Onde: Pátio da Misericórdia | Goiana – PE
Hora: 18 h
Gratuito
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