Mesmo após mais de uma década sem movimento, o Aláfia mostrou que ainda tem força e relevância para a cultura negra e popular de Goiana
Caboclinhos 7 Flexas / Créditos: Emanuelly Leite
Por Guilherme Souza
Nos últimos dias 12 e 13 de outubro, aconteceu o evento Aláfia, manifestação da cultura negra e popular da cidade de Goiana, com um seminário a respeito da trajetória e importância do Aláfia ministrado por Zinho Aláfia, uma oficina de pandeiro para mulheres lecionada por Paz Brandão e dois dias de apresentações musicais em frente a Igreja do Rosário dos Homens Pretos, apresentado por Serginho da Burra, tudo de forma gratuita, para que o público pudesse desfrutar inteiramente essa experiência de entretenimento sociocultural e educativo. Pelo palco do evento, passaram: As Pretinhas do Congo, Caboclinhos União Sete Flexas, RVA, Afoxé Oyá Alaxé, Mônica Maria, Cavalo Marinho Mayê, Coco de Parea, Poli e Maciel Salú. Essa edição do Aláfia, que ocorreu exatamente 15 anos após a última, foi um projeto que começou com a idealização da produtora cultural Hevelyne Figueiredo, juntamente com os produtores culturais Zinho Aláfia e Mônica Maria, idealizadores do Aláfia desde os seus primórdios, e que também são músicos e compositores.
Seminário: 20 anos de identidade negra, com Zinho Aláfia / Créditos: Emanuelly Leite
Através do edital da Lei Paulo Gustavo, esse projeto – a edição de aniversário de 20 anos do Aláfia – veio em um momento deveras oportuno, culminando com a maturidade profissional dos envolvidos em sua realização, e aproveitando o investimento da já citada Lei, que visa garantir o direito à cultura como um direito humano. A Lei é, também, um símbolo de resistência da classe artística. Foi aprovada durante a pandemia de Covid-19, que limitou severamente as atividades do setor. É, ainda, uma homenagem a Paulo Gustavo, artista símbolo da categoria, vitimado pela doença. As condições para a execução da Lei Paulo Gustavo foram criadas por meio do engajamento da sociedade. Em 2022, após a aprovação do Congresso Nacional, o Executivo tentou impedir os repasses por meio do veto integral da Lei e por meio de uma Medida Provisória. Apoiado pelo segmento artístico-cultural e pela sociedade civil, o Supremo Tribunal Federal anulou a Medida Provisória e deu o aval para a execução.
Oficina de pandeiro para mulheres, com Paz Brandão / Créditos: Emanuelly Leite
Foi nítido perceber o quanto o público estava animado nos dois dias de evento, pois, ao mesmo tempo em que um clima de nostalgia pairava sobre a Rua do Rosário, com o palco montado em frente a Igreja do Rosário dos Homens Pretos (tombada pelo Iphan como Patrimônio Histórico Nacional desde 1938, a igreja é um símbolo do rico patrimônio cultural da região), também era possível constatar o quanto o Aláfia fez falta nesses anos em que esteve ausente, bem como da sua importância enquanto evento de caráter sociocultural e educativo, com atrações musicais regionais, que trazem em sua arte uma expressão artística de cunho popular.
Cavalo Marinho Mayê / Créditos: Emanuelly Leite
Coco de Parea / Créditos: Emanuelly Leite
Poli / Créditos: Emanuelly Leite
Maciel Salú / Créditos: Emanuelly Leite
Agora que o Aláfia já passou e deu para matar um pouco da saudade, ficamos na expectativa para que o evento possa acontecer com uma constância definida. Quinze anos atrás, a classe artística não contava com tantos editais de financiamento para o setor cultural como agora, o que ajuda bastante para a realização e promoção de importantes manifestações e na manutenção dos patrimônios culturais. O Aláfia mostrou que ainda continua relevante e tem muito a oferecer, não apenas no entretenimento, mas fomentando um senso de respeito para com a identidade negra, popular e na consciência coletiva da cidadania.
Público prestigiando os 20 anos do Aláfia / Créditos: Emanuelly Leite
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